Árvores e espaços verdes urbanos
ajudam as pessoas a relaxar e trazem benefícios para a saúde
Inúmeros estudos têm mostrado uma ligação clara entre os ambientes tranquilos – sobretudo
espaços naturais ao ar livre – e o bem-estar, a redução do stress e até mesmo a longevidade e o
alívio da dor. Se os sons naturais, como o canto das aves e o som da água, e a presença de árvores
e vegetação promovem o relaxamento, o ruído produzido pelo tráfego rodoviário e a presença
de lixo podem reduzi-lo. Apesar dos óbvios benefícios dos espaços tranquilos para a saúde, numa
cidade movimentada, por vezes, pode ser difícil encontrá-los.
O que torna um local tranquilo?
Para descobrir o que torna um local tranquilo, uma equipa de cientistas da Universidade de
Bradford desenvolveu a Ferramenta de Previsão do Nível de Tranquilidade (TRAPT, na sigla em
inglês). A ferramenta mede dois fatores: o nível de ruído antropogénico (normalmente o tráfego)
na paisagem sonora e a percentagem de características naturais – como árvores, arbustos, flores
ou água – ou contextuais à vista.
“Isto inclui coisas como se o lugar tem uma fonte e muita vegetação ou se tem vista para um
edifício religioso ou histórico – tudo isto elementos que, de acordo com o nosso estudo, ajudam
a aumentar a tranquilidade de um lugar”, escreveu Greg Watts, professor da Universidade de
Bradford que liderou o estudo.
Outros elementos que afetam o nível de tranquilidade, como a presença de lixo, também são
tidos em conta. No final, é atribuída uma pontuação de 0 a 10 aos espaços, sendo que as
pontuações inferiores a cinco são consideradas “inaceitáveis”.
Os investigadores descobriram que os parques urbanos e os bairros com árvores ou com edifícios
históricos, por exemplo, “conseguem ter uma pontuação elevada devido aos atributos visuais
favoráveis aliados ao baixo ruído de tráfego. A proximidade de água também se revelou um fator
positivo para a tranquilidade, devido ao facto de ser naturalmente agradável observá-la e
relaxante ouvi-la.”
A equipa de investigação testou e validou este sistema durante mais de dez anos, através de
estudos de campo e de laboratório. Greg Watts acredita que a ferramenta poderá ajudar os
responsáveis pelo ordenamento do território, arquitetos, ambientalistas, dirigentes cívicos e
cidadãos interessados a otimizar o meio urbano, a conhecer o impacto da introdução de árvores,
sebes ou mais vegetação nos espaços urbanos e a rejuvenescer subúrbios e centros urbanos
degradados.
“Estas medidas também deverão ajudar a fazer frente a ameaças como a pressão urbanística, a
remoção de árvores ou a densificação do trânsito, que poderão pôr em risco os benefícios
existentes”, disse o professor.
Como se criam espaços tranquilos?
O conselho do cientista é claro: “Para se aumentar o nível de tranquilidade de uma zona, o
primeiro passo é reduzir o ruído antropogénico.” Isto pode ser alcançado através do desvio do
tráfego rodoviário, proibições de camiões, barreiras acústicas, revestimento de estradas para
reduzir o ruído e muros mais altos perto das estradas, sugere Greg Watts.
“O aumento da percentagem de elementos naturais (…) também pode ajudar a incrementar a
tranquilidade de uma zona. A introdução de mais árvores, arbustos ou latadas para ‘esconder’ as
fachadas dos edifícios faz com que as pessoas se sintam menos stressadas e mais calmas no seu
meio envolvente – por isso, deve-se tirar o máximo proveito da vegetação.”
Segundo um relatório do Instituto para a Política Ambiental Europeia, quem vive perto de árvores
e espaços verdes tem menos probabilidade de ser obeso, inativo ou de estar dependente de
antidepressivos. Para além do embelezamento visual, o arvoredo urbano também retém a água
da chuva, diminuiu as despesas com o aquecimento, abranda o vento nos bairros, contribui para
a valorização dos imóveis, para uma melhor saúde mental e pode mesmo chegar a salvar vidas.
“A presença de sons ‘naturais’ também ajuda a que um lugar se torne mais tranquilo. Isto pode
ser feito através da instalação de uma fonte ou lago, o que não só ajudará na questão do
relaxamento como também servirá de convite para as aves aquáticas e outros pássaros.”
“O que isto tudo mostra é que criar um refúgio da barulheira da vida urbana não tem de ser uma
tarefa colossal. E são frequentemente os espaços verdes negligenciados que podem ser
reimaginados como refúgios de tranquilidade”, disse o professor. “Portanto, da próxima vez que
se sentir stressado, vá à procura de um espaço tranquilo, ou, ainda melhor, faça um só para si –
dessa forma, poderá desfrutar de um pouco de calma sempre que quiser.”
Caminhar para relaxar
Os passeios em percursos relativamente calmos podem combinar o relaxamento com o exercício
físico. Um estudo da Universidade de Standford revelou que caminhar 50 minutos na natureza
pode melhorar a saúde mental, a memória e reduzir o risco de depressão. Com a ajuda da TRAPT,
já foram desenvolvidos, no Reino Unido, alguns “trilhos de tranquilidade”.
Os caminhantes destes percursos declararam sentir-se mais relaxados e menos ansiosos depois
de os percorrerem.
“Também há interesse nestes trilhos na Irlanda, EUA e Hong Kong”, contou Greg Watts,
acrescentando que “seria fantástico colaborar” na elaboração de mais trilhos.
1 de setembro, 201