Pular para o conteúdo

Blog do Vavá da Luz

CLUBE DA HISTÓRIA EM : A história do leão que não sabia escrever

A história do leão que não sabia escrever
O leão não sabia escrever.
Mas isso não o atrapalhava, pois ele sabia rugir
e mostrar os dentes.
E o leão não precisava de mais nada.
Um dia, ele encontrou uma leoa.
A leoa estava lendo um livro e era muito bonita.
O leão foi se aproximando e quis beijá-la. Mas
de repente ele parou e pensou melhor.
Uma leoa que lê é uma dama.
E para uma dama a gente escreve cartas, antes de beijá-la.
O leão tinha aprendido isso com um missionário que ele tinha devorado.
Mas o leão não sabia escrever.
Então, ele procurou o macaco e disse:
— Por favor, escreva uma carta para a leoa.
No dia seguinte o leão foi levar a carta ao correio.
Mas ele queria saber o que o macaco tinha escrito.
Então o leão voltou e fez o macaco ler.
E o macaco leu:
“Querida amiga: quer subir nas árvores comigo?
Também tenho bananas para lhe oferecer. São deliciosas!
Saudações, Leão”.
— Nada disso! — rugiu o leão. — Eu jamais escreveria uma coisa dessas!
E o leão rasgou a carta.
Então ele foi até o rio e pediu para o hipopótamo escrever outra carta.
No dia seguinte o leão foi levar a carta ao correio.
Mas ele queria saber o que o hipopótamo tinha escrito.
Então ele voltou e o hipopótamo leu:
“Querida amiga, quer nadar comigo no rio e mergulhar para catar algas? São uma delícia!
Saudações, Leão”.
— Nããããão! — rugiu o leão. — Eu jamais escreveria uma coisa dessas!
Na mesma tarde foi a vez do escaravelho. Ele se empenhou com a maior boa vontade e até
perfumou o papel.
No dia seguinte o leão foi levar a carta ao correio e encontrou a girafa.
— Pff, que cheiro horrível é esse? — perguntou a girafa.
— A carta! — disse o leão. — É o cheiro do escaravelho!
— Ah — disse a girafa —, eu bem que gostaria de ler essa carta.
E a girafa leu:
“Querida amiga, quer rastejar comigo pelo barro?
Tenho estrume para lhe oferecer. É uma delícia!
Saudações, Leão”.
— Nãããããoo! Nada disso! — rugiu o leão. — Eu jamais
escreveria uma coisa dessas!
— Pois você não escreveu, mesmo! — disse a girafa.
Furioso, o leão rasgou a carta e pediu para a girafa escrever outra.
No dia seguinte, ele quis que o crocodilo lesse. Mas, quando o leão foi
pegar a carta de volta, o crocodilo tinha devorado a girafa.
Com carta e tudo!
Então, foi a vez de o crocodilo escrever.
E quem leu a carta dele foi o abutre:
“Querida amiga, ainda sobrou um resto de girafa para hoje à noite.
Venha jantar comigo. É uma delícia!
Saudações, Leão”.
— Ah, não — disse o leão. — Eu jamais escreveria
uma coisa dessas!
O leão rasgou a carta.
No dia seguinte o abutre escreveu outra, que ele
mesmo leu:
“Querida amiga, sou o Leão, e quem manda aqui sou eu. Quero conhecê-la.”
O leão balançou a cabeça, satisfeito. Era isso mesmo o que ele queria dizer.
O abutre continuou:
“Podemos sobrevoar a selva. E tenho carniça para lhe
oferecer. É uma delícia!
Saudações, Leão”.
Aquilo foi demais!
— Não! — rugiu o leão. — NÃÃÃÃO! ¡Não! três vezes Não!
— Eu diria que ela é muito bonita. Diria que gostaria muito de encontrá-la. Só para estarmos
juntos. Para deitarmos juntos debaixo das árvores, olhando para o céu, ao entardecer! Não deve ser
muito difícil escrever isso!
Então o leão desatou o rugido.
Rugiu todas as coisas maravilhosas que ele
escreveria, se fosse capaz.
Mas o leão não sabia escrever.
E ele continuou rugindo.
—Então por que você mesmo não escreveu?
O leão se virou.
— Quem foi que perguntou isso?
—Eu — disse a leoa do livro.
E o leão de dentes afiados respondeu baixinho:
— Não escrevi porque não sei escrever…
A leoa sorriu, franziu o focinho para o leão e foi andando junto com ele.

 

Martin Baltscheit
A história do leão que não sabia escrever
São Paulo, Editora Martins Fontes, 2011