Pular para o conteúdo

Blog do Vavá da Luz

ABRAM ALAS PARA OS FOLHETOS E LIVROS ( Crônica do Poeta Fabio Mozart em A União)

fabio1

Há um ano, criamos a Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Esse negócio de Academia pegou em cheio na opaca cena cultural da Itabaiana do Norte. A demanda é grande. Muitos poetas, outros aprendizes, alguns que nem cordelistas são, apenas admiradores da arte, pedindo inscrição na agremiação do cordel. A solução é dar entrada a todos, mesmo porque é positiva essa excelente resposta, comprovando assim que o cordel está vivo com sua magia e as várias possibilidades como expressão.

O fato encerra em si mesmo uma realidade que muitos teimam em obscurecer: o desinteresse e até o preconceito com as expressões artísticas genuinamente nordestinas, com nossas heranças culturais, essa inibição é mais barreira imposta pela indústria cultural que aliena o homem comum. No fundo, lá dentro do inconsciente coletivo, o povo gosta de curtir sua cultura de raiz.

Sabendo que a criança é bastante receptiva a qualquer atividade ou conhecimento, o antenado Presidente da Academia, poeta Sander Lee, já pensa em levar oficinas para as escolas, motivando a garotada a ler e escrever cordel, realizando recitais, promovendo lançamentos de folhetos, enfim, projetando essa arte para as novas gerações, desenvolvendo seu gosto pela arte, seu sentido estético, adentrando no mundo de fantasia, aventura, realidade ou ficção dos folhetos de cordel, transmitindo a própria vida, a própria história cultural e social da comunidade. E que seja imortal o cordel nordestino!

Considere-se ainda a energia e informalidade do cordel, representada em nossa Academia pelo poeta Vavá da Luz, entre outros, um agente ativo do deus Eros, mestre da poesia erótica e hilária, discípulo do mestre Laurindo Rabelo (século XIX), autor dessa singela quadrinha:

No cume da minha serra
Eu plantei uma roseira
Quanto mais as rosas brotam
Tanto mais o cume cheira.

Para divulgar nossos folhetos e promover o hábito da leitura, criamos o projeto “Biblioteca viva”, onde se pode trocar livros sem nenhuma burocracia. Já instalamos expositor no Fórum Cível Mário Moacyr Porto, em João Pessoa. Brevemente, teremos expositores do projeto em Itabaiana, Itatuba, Ingá e Mari. O poeta Sander Lee, Presidente da Academia, se mostra bastante animado com as atividades da instituição, que ainda neste mês de agosto, no dia 27, apresentará outra edição do projeto “Cordel do fogo apagado” em Mari, com apoio da Rádio Comunitária Araçá, que consiste na reunião de poetas declamadores e artistas populares para um sarau artístico aberto ao público. Teremos a posse dos poetas Bebé de Natércio, Wagner Lins, Adilson Adalberto, Jandira Lucena e Maurício Lima, de Itatuba.

“Perguntaram um dia a Bernard Shaw se ele acreditava que o Espírito Santo havia escrito a Bíblia”, contou o escritor Jorge Luiz Borges em uma palestra pública certa vez. “E Bernard Shaw respondeu: ‘Todo livro que valha a pena ser lido foi escrito pelo Espírito’.” Borges, quase cego total, percebia o livro como algo quase mágico. Mesmo cego – podia distinguir apenas o vulto de alguém à sua frente – ele seguia comprando livros. “Eu sigo brincando de não ser cego”, dizia Borges.

Na Academia de Cordel do Vale do Paraíba, a gente segue brincando de não viver numa cidade onde o livro há muito que não faz parte da realidade e necessidade imediata do seu povo. Borges escreveu: “Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, sem dúvida, o livro. Os outros são extensões do seu corpo.”

 
Nenhum texto alternativo automático disponível.