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CLUBE DA HISTORIA EM : Todas as mães são mães que trabalham

A expressão “mãe que trabalha” é redundante. Jane Sellman O tempo estava esplêndido e vivíamos na Califórnia, a uma hora de distância do Oceano Pacífico. Por isso, com o verão a terminar, e as férias ainda a decorrer (eu dava aulas em casa), decidimos ir para a praia. Aquele poderia ser o último dia de calor, e nunca iríamos perdê-lo! Portanto, lá segui em direção ao oceano, com cinco crianças com menos de oito anos de idade — Josh, Matt, Ben, Zach, e Sophia.

Mas, antes de partir, todos juntos, lavámos a louça do pequeno-almoço, preparámos o carro, e depois reunimos mantas de praia, guarda-sol, toalhas, fatos de banho, fraldas, óculos de sol, brinquedos de praia, estojo de primeiros socorros, protetor solar, uma mala térmica cheia de sandes e bebidas. Carreguei as várias cadeirinhas e prendi, fechei e afivelei ao carro cinco corpos em movimento constante.

Não estava quase ninguém na praia. Demarquei um território perto da água, arrastei tudo de dentro do carro até lá, e montámos acampamento. Durante cinco horas fiz de criada particular, aplicadora de protetor solar, conselheira de meteorologia, diretora de animação, instrutora de natação, salva-vidas, concessionária de comida, consultora comportamental, negociadora para a paz, psicóloga… já para não referir zeladora dos perdidos e achados. Finalmente, lá puxei tudo de novo para o carro e voltámos para casa.

O sol era ameno, e todos estavam satisfeitos. Tinha sido um dia maravilhoso e, como mãe, eu sentia-me bem comigo mesma. Então, do banco de trás, ouvi o Zachary a aclarar a garganta e a perguntar: — Mãe, quando é que vais arranjar um emprego? — Mas este é o meu emprego! — disse eu, algo divertida mas também um pouquinho irritada. No percurso até casa, com os miúdos a adormecerem um a um, fiquei sozinha com os meus pensamentos. De algum modo — mesmo que pudesse ser um trabalho duro e embora eu tivesse os meus momentos de impaciência — os meus filhos não pensavam na maternidade como se fosse um emprego. E eu concluí que isso até podia não ser mau de todo.

Ser mãe não é propriamente um emprego mas antes uma vocação. E as vocações não se parecem com os empregos, porque acabam por exigir muito mais de cada um. Isto é especialmente verdade com as mães que estão em casa, cujos dias são passados a pôr montanhas de roupa a lavar, a fazer sandes de manteiga de amendoim e geleia, e muito mais ainda. Vivemos num mundo onde o sucesso é medido pelo dito “progresso”, registado em boletins informativos, relatórios de vendas, avaliações de comportamento, subidas nos ordenados e traduzido em faixas, troféus, e medalhas de mérito.

Os nossos maridos e crianças trazem para casa imensas coisas destas e fazem-nos sentir orgulhosas. Pômo-las em álbuns de recortes, cosemo-las nos uniformes, emolduramo-las e penduramo-las na parede para que todos as vejam. Mas não conheço um único prémio especial por ensinar uma criança a apertar os cordões dos sapatos ou a vir para a mesa quando a chamam. Nada de ganhos ou elogios quando uma mãe larga tudo para sair de casa à pressa por causa de uma exposição de trabalhos do filho: “ O teu projeto é para amanhã? Mas são quase oito horas!” Isto continua a acontecer todos os dias, com as mães de todos os dias, a fazer as coisas de todos os dias — por vezes combatendo sentimentos de inferioridade ou mesmo de inutilidade —, obedecendo apenas à sua vocação.

Daí a ironia: enquanto inúmeras pessoas importantes, em lugares importantes, orientam inúmeros negócios importantes, o trabalho que é na verdade o mais importante é feito em casa, onde os futuros adultos estão a ser educados. Suponho que, se nos mostrássemos suficientemente desagradadas com a falta de reconhecimento, poderíamos até processar aqueles que nos inferiorizam…Mas isso não seria a atitude de uma mãe, pois não? Porque há algo com as mães que faz com que nelas seja suave o que nos outros é duro, amável o que nos outros é cruel, paciente o que nos outros não pode esperar.

Não há nada como a maternidade (física e psicológica…) para mudar em nós tudo o que deve ser mudado. Pelo menos, tem sido este o meu percurso. Consegui construir um lar, criar uma família, e ajudar os meus filhos a crescer, dando o melhor de mim. E isto não teria sido possível sem o apoio do meu marido que nunca me viu (ou sequer permite que os nossos filhos me vejam) como menos do que aquilo que efetivamente sou. Juntos decidimos que as coisas seriam assim. E até agora temo-nos sentido muito felizes com a decisão.

 

Barbara Curtis