Até aos oito anos, pensava que a palavra domingo significava dia de descanso, porque passava todos os santos domingos no jardim, com a minha avó.
As curgetes depressa se tornaram as minhas plantas preferidas, pela maneira como as pequenas e delicadas gavinhas trepavam e se enrolavam na treliça, como se fossem pequenos dedos. Pareciam tão frágeis… Sentava-me no chão e tratava delas, pois sentia que precisavam de mim.
A minha avó encarrapitava-se no seu banquinho de jardim e olhava para os tomates de maneira solícita. — Avó — perguntei-lhe um dia — tenho que retirar todas estas pequenas flores amarelas? — Porque haverias de as retirar? — perguntou ela, com gentileza. — Bem, pensei que talvez atraíssem insetos e que depois os insetos poderiam comê- las… — Não, querida — respondeu, com um pequeno sorriso. — Em breve aquelas flores transformar-se-ão em curgetes. — A sério? — Vais ver que sim. Em breve verás que coisas pequenas podem transformar-se em coisas maravilhosas.
Não te esqueças disso. — Coisas pequenas podem transformar-se em coisas maravilhosas — repeti para mim mesma. — É verdade — confirmou a minha avó. E todos os domingos eu voltava ao jardim para examinar as curgetes e, sempre que o fazia, via que havia cada vez mais. — Achas que há assim tantas porque eu tomo bem conta delas? — perguntei. — Acho que sim — respondeu a minha avó. — Quando tomamos conta das coisas, há coisas boas que crescem. Não te esqueças. — Quando tomamos conta das coisas, há coisas boas que crescem — repeti para mim mesma. — É verdade — continuou a minha avó. A partir desse dia, passei a tomar conta das curgetes ainda melhor. Retirava as folhas castanhas e, se alguma das pequenas gavinhas não chegava à treliça, eu deslocava-a um pouco para mais perto.
A minha avó fazia o mesmo com os tomates. Certo domingo, vi-a pegar na tesoura de poda e cortar um ramo inteiro do tomateiro. — Avó! — exclamei, chocada. — Porque fizeste isso? — A planta não é suficientemente forte para aguentar dois ramos carregados de tomates — explicou-me. — Tinha de eliminar um deles para a planta tirar o máximo proveito do outro. Um dia, também vais ter de fazer este tipo de escolhas — disse a minha avó. — Queres dizer que vou ter de cortar alguma coisa? — Não, querida, — disse, rindo — mas poderás ter de tomar algumas decisões, porque, às vezes, não podemos ter tudo o que queremos. — Não me esquecerei — prometi. Durante meses, regressei todas as semanas a casa da minha avó para ver a minha planta. E, de todas as vezes, vi, com orgulho, que tinha mais curgetes.
Até que um dia deixaram de aparecer. Algumas semanas mais tarde, já não havia nenhumas. — Avó, o que aconteceu com a minha planta? — perguntei, lavada em lágrimas. — Já não cresce mais. — Sabes, querida, as coisas crescem, mas depois acabam. Nada dura para sempre. — Mas eu tratava-a tão bem! — Tratavas, pois, mas as coisas acabam para que novas coisas comecem. — Há alguma coisa de que nunca me deva esquecer? — Há — disse a minha avó. — Quando algo morre, há sempre algo que nasce em seu lugar. — Não me esquecerei — disse. Continuei a ajudá-la a tratar das outras plantas do jardim, mas um dia confessei: — Tenho tantas saudades das curgetes! — Eu sei que tens, querida — disse a minha avó. — Avó, achas que o avô podia fazer uma estufa? Assim podíamos ter curgetes todo o ano. — Talvez tenhamos que esperar pela estação certa — disse a minha avó. — Mas achas que podemos tentar? — Acho que podemos tentar — concordou.
O meu avô concordou e, quando cheguei, na semana seguinte, a estufa já estava construída. O melhor era as paredes interiores que estavam todas cobertas de treliças. — É a casa perfeita para as curgetes — disse eu. — E para os tomates — acrescentou a minha avó. Plantamos curgetes num lado e tomates no outro. As curgetes tinham cada vez melhor aspeto e os tomates da avó estavam bonitos.
Quando vimos os frutos, demo-nos conta de que a estufa funcionava na perfeição. — Olha, avó! — exclamei. — Tenho aqui uma pequena curgete e centenas de flores. Estas curgetes vão ser as melhores de sempre! — Tiveste uma ideia fabulosa — disse a minha avó, apertando-me a mão. — Sabes, avó, acho que há uma coisa de que não te deves esquecer. — O que é? — Quando queremos mesmo alguma coisa, encontramos sempre uma solução. A minha avó virou-se e olhou para mim. Vi-lhe uma pequena lágrima no canto do olho e, por um instante, pensei que ia chorar.
Foi então que fez o maior sorriso que alguma vez vi. Abanou a cabeça ligeiramente e apertou-me novamente a mão. — Obrigada, minha querida! — disse. — Não me esquecerei.
Shelley Ann Wake J. Canfield; M. V. Hansen; LeAnn Thieman Chicken Soup for the Grandma’s Soul Florida, HCI, 2004 (Tradução e adaptação)