Desde menino, sempre compareci a estádios de futebol, alegria da grande maioria dos brasileiros. Naqueles tempos, os campos eram de pouca capacidade de torcedores, com exceção do eterno Maracanã, que fora edificado nas ‘coxas’ sem mesmo concluir obras de acabamento arquitetônico. Fixada a capacidade para 155 mil espectadores, sendo dividido assim: 93.500 sentados nas arquibancadas, 30 mil em pé nas gerais, 30 mil nas cadeiras cativas e mais 1.500 nos camarotes, sendo festivamente inaugurado em 16 de junho de 1950, num jogo amistoso entre as seleções, Carioca e Paulista, saindo vencedora esta última por 2 x 1, de virada!
Um mês depois da inauguração festiva, chega o final da Copa de 1950, com o histórico Maracanã suportando 203 mil pessoas, muito acima da capacidade máxima, se parecendo com uma sardinha enlatada, onde quem se levantou não conseguiu sentar. O jogão envolveu dois sul americanos: Brasil x Uruguai e os palpites davam quase cem por cento para os brasileiros. Surpreendendo o silêncio tumular, o apito final anunciou vitória dos uruguaios e, um choro convulsivo tomou a conta dos torcedores da canarinha, em 16 de julho de 1950.
Pois bem, neste final de semana, aqui na minha Paraíba, o Auto Esporte Clube, time tradicional dos motoristas, defendia primeira posição no paraibano de futebol, no Estádio Almeidão. No final do segundo tempo, após a marcação do gol esperado, um torcedor despencou do fosso, com três metros de altura, que separa o campo com as arquibancadas. Resultado: não houve assistência médica eficiente e o torcedor faleceu, com o grito na garganta do gol de seu time de coração.
Dos novos e majestosos estádios brasileiros, acidentes graves aconteceram, especialmente: a Arena da Amazônia, com duas vítimas fatais no trabalho, um sendo cearense e outro português; a Arena do Corinthians com dois óbitos, um de Limeira e outro do Ceará; Arena do Grêmio com um paraibano de Juru e um baiano; Estádio Mané Garrincha, com uma morte de piauiense; Estádio Mineirão também com piauiense, todos decorrentes de falecimentos, no pleno exercício profissional, nos canteiros de obras. Danado é que ficou por isso mesmo, sem que a responsabilidade civil e criminal fosse aplicada, a quem de direito!
Também são vítimas letais dos estádios brasileiros, todos os que contribuem obrigatória e mensalmente, para encher os cofres dos governos Federal e Estaduais, com flagrante falta de transparência na aplicação da dinheirada nas polêmicas arenas futebolísticas.
Estamos em 2014, e ainda existem outras vítimas veladas dos nossos estádios de futebol, tudo a depender do resultado final do time brasileiro. É exemplar o desejo dos políticos que se candidatam a cargos públicos indo, desde o Presidente da República, passando pelos Governadores, Senadores e finalmente, os Deputados Federais e Estaduais, todos a depender da prestação de contas atabalhoada, guardada a sete chaves…
Quem está com as chaves do reino, debaixo do braço, lave logo o suvaco porque jogo de Copa do Mundo não é brincadeira!
(*) Advogado e desembargador aposentado