Às portas, não! Já dentro de Campina Grande, e por ser o “maior São João do Mundo”, suas águas festivas transbordam o Parque, alegram as campinas, descem a Borborema, e além da serra, acordam outras cidades, como tudo fizesse parte, numa mesma terra, de uma mesma festa. O São João é nordestino, canta e dança da Bahia ao Ceará. Mal se abriu o fole da sanfona em Campina, de repente tine o triângulo em Santa Luzia, logo bate o zabumba em Patos. Quanto menor o povoado, mais reverencia o Santo, reza mais do que dança; quanto maior, dança mais do que reza… O profano considera mais padroeiro o “São João do Carneirinho”, protetor da safra das espigas de milho, de que se fazem as tradicionais comidas: canjica, pamonha e, nas brasas da fogueira, o milho assado.
Ao mártir, o São João decapitado, tudo o que for sagrado. Comemore-se assim esse São João adulto, sofrido, ao caminho do Jordão para batizar, seu primo, Jesus Cristo. Antes de pregar profecias e anúncios do Messias, certamente o menino do cordeirinho e Jesus bambino praticaram suas travessuras, talvez à caça para ver e não para matar lagartixas e outros bichos, nas pedras próximas ao deserto. Foi nesse mesmo espaço, através do qual perambulou, pensando alto ou falando sozinho, dizendo coisas que repetiria às multidões. Meditava, somente incomodado pelas areias nas ventanias; vestido de pele de camelo, uma faixa em torno dos rins e alimentando-se de gafanhotos e de mel. Acho que tal vestimenta inspirou a admoestação: “Estejam cingidos os vossos rins e em vossas mãos lâmpadas acesas”.
Quem é profeta não só é “voz que clama no deserto”, mas palavras que agradam aos pobres de espírito e desagradam a ricos. Nesse contexto, a malvadeza habitava a casa de Herodes, que, aborrecido, já tinha matado crianças, tentando esmagar a semente da esperança messiânica. Salomé, formosa e bem feita de corpo, esmerou-se na dança do ventre, fazendo o rei prometer-lhe o que quisesse. Soprados seus ouvidos pela mãe, exigiu que lhe fosse presenteada, em bandeja, a cabeça do profeta João Batista. E assim se atendeu seu desejo, que faz parte da história do São João que se comemora. Esse é o padroeiro da comemoração do sagrado.
História não lembrada nas festas juninas do santo, sobretudo às vésperas do seu dia. Por outras motivações, aceso, andarilhando pelos oitões das fazendas e das casas à beira da estrada, o São João campinense passa de Patos, caminha a Sousa, indo de Cajazeiras ao Ceará, sem esquecer outros interiores, como Pilar da minha infância, Itabaiana da minha adolescência, Monteiro e Bananeiras da vida adulta, quando me aprisionei às essas noites antigas, que caracterizam o saudoso São João de outrora.
Antes das portas de Campina, havia pés de milho, iguais ao pé de milho do meu quintal, nos tempos de menino. Eram, de fato, como o único pé de milho que plantara atrás de minha casa; nasceu apenas de um único grão. Admirei flores lindas no mundo, admito que a flor de milho não teria sido a mais bonita, mas seu pendão, sim, então mais alto do que eu, enchia mais a minha vista do que os milharais dos imensos roçados. Durante o São João, meu pé de milho não morre, ressuscita o milagre nascido quase do chão da minha casa.