RAMALHO LEITE
Nos primeiros dias de abril, em Areia, será realizado o Primeiro Encontro de Cafeicultura do Brejo Paraibano. A iniciativa é da ATURA, entidade privada que procura suprir as deficiências locais na área do turismo e da economia, ao lado do SEBRAE, UFPB e EMBRAPA e do sempre presente deputado Eduardo Carneiro, autor da proposta que deu à cidade o titulo de Capital da Cachaça. O evento me fez lembrar outra iniciativa realizada em Bananeiras, envolvendo por igual a nossa Universidade e, também, uma rápida pesquisa que naquela ocasião divulguei, com referencia à introdução do café, no Brasil e na Parahyba.
O café era produzido na Guiana Francesa e proibido a saída de grãos para o Brasil. O governador do Grão Pará, Geraldo Maranhão, enviou à Guiana vizinha o Sargento-mor do Exercito Francisco de Melo Palheta que, ao visitar uma plantação de café, recebeu das mãos da esposa do governador local um punhado de grãos que recolheu ao seu bolso. De volta ao Brasil, Palheta plantou as sementes nos arredores de Belém do Pará, onde morava. O nome de Palheta ficou eternizado na história do café.
Na Parahyba acredita-se que o café foi introduzido entre a terceira década do século XVIII e a segunda do século XIX. Para Apolônio Nobrega, ninguém sabe com exatidão a época da entrada do café entre nós.
A primeira experiência foi em Mamanguape mas as terras da região não ofereciam condições geológicas adequadas. O gaúcho Tomé Barbosa da Silva resolveu fazer um experimento nas terras de Bananeiras. Surgiu então os primeiros plantios, no sítio Bacuparí. O coronel Anísio da Costa Maia, porém, duvidava dessa assertiva e atribuía ao português João Lopes Porto a iniciativa..
Maurilio Almeida, em O Barão de Araruna e sua Prole escreve:
“Bananeiras veio a ser observada pelas outras Vilas e cidades com olhos de cobiça, inveja e despeito. Ela pode lograr a formação de uma aristocracia rural, com preponderante apoio nos privilégios econômicos resultantes da produção de café” .
A produção do café na PB foi objeto da preocupação do governante paraibano Beaurepaire Rohan em mensagem à Assembleia Provincial no ano de 1859. Através do vice presidente Felizardo Toscano de Brito, em mensagem dirigida à Assembleia, de 4 de agosto de 1865, destaca-se: “Como sabeis, muitas das terras da Província, sobretudo as serras, são as mais apropriadas para a plantação do café, que em algumas provinciais do sul é a principal e mais importante fonte de riqueza. O plantio da rubiácea não vem sendo descuidado, produzindo excelentes resultados na Vila de Bananeiras”.
No brejo paraibano, o maior produtor foi o coronel e comendador Felinto Florentino da Rocha, filho do Barão de Araruna que chegou a contar 300 mil pés de café.
A produção do café era beneficiada em maquinas instaladas nos engenhos de açúcar e aguardente. O anuário estatístico de 1916 registra a existência dessas machinas de despolpar café. ,
Toda a produção cafeeira era encaminhada ao Porto de Mamanguape para exportação. Daí a necessidade do trem chegar a Bananeiras para exportar o café por Cabedelo. A partir de 1921 o cerococcus parahybenses dizimou as plantações de café. O trem chegaria em 1925, quando não existia mais café para ser transportado.
Bananeiras e o brejo viveram uma verdadeira civilização do café. Os sobrados do inicio do século passado em Borborema, Serraria e Bananeiras são o espelho da riqueza produzida pelo café.
Por volta de 1945, o imortal Celso Mariz, proferindo palestra no Bananeiras Clube sob o titulo “Bananeiras, antes e depois do café” assim se expressou com referencia aos produtores de café: : “João Rocha acendia cigarro com notas de duzentos mil reis. Equipadores vaidosos, em dias de feira, banhavam os cavalos com cerveja. Joao Belo e outros aventureiros do pano verde vinham aqui como um manancial inesgotável. Era a vida estudante de um núcleo prospero e feliz onde o dinheiro sobrava para os excessos generosos, sadios, boêmios e supérfluos”.
Foi quando apareceu um bichinho encarnado e acabou com a farra. A esse bichinho chamaram cerococcus parhybenses. Ele encerrou a historia do café no brejo da Parahyba do Norte. A iniciativa de Areia é uma tentativa de ressuscitar a cultura do café entre nós. Parabéns!