UMA VISÃO DO PASSADO
O político potiguar Joaquim Ignácio, já identificado no primeiro texto desta série, depois de se demorar na Capital da Parahyba tomou o trem e partiu para o interior do nosso estado. “Tibiry, Santa Rita, Engenho Central, Reis, Espirito Santo, Sapé, Cobé, Entroncamento”, enumera as paradas, mas engoliu Mari. Essa sequência de estações volta à minha memória pois, por muitos anos, fiz o mesmo percurso até que desativaram a nossa linha férrea. Em Mulungu, a estrada se bifurcava para atingir Alagoa Grande. Esse trecho ferroviário havia sido concedido pelo governo Imperial ao conselheiro Diogo Velho, ao engenheiro André Rebouças e ao bacharel Anísio Carneiro da Cunha. A concessão foi depois transferida para a Estrada de Ferro Conde D”Eu gerando a obrigação de se estender até Ingá e Independência (Guarabira). Quando o nosso visitante aportou na Parahyba, o trem já chegava até Borborema. Só em 1925, chegaria a Bananeiras, cumprindo-se o sonho de Solon de Lucena – “por debaixo da terra”. Estava concluído o túnel da Serra da Viração.
A primeira cidade a ser vista pelo ilustre visitante foi Alagoa Grande. À época, um dos maiores centros produtores de algodão que abastecia uma usina da Companhia Parahybana de Descaroçagem e Prensagem. Um grande estoque de caroço de algodão jazia nos armazéns à espera de vagões disponíveis da Great Western, narra o visitante. Esta cidade, “como Borborema ao norte, era um entreposto de café e fumo produzidos na zona do brejo”. Deixando o trem em Alagoa Grande, o autor de “Minhas Impressões” foi em demanda de Areia, por uma “excellente estrada de rodagem”. Registrou uma curiosidade: o automóvel descendo de Areia para Alagoa Grande “quase não gastará combustível” tamanha é a inclinação do trecho de 14km que separa as duas cidades. A primeira, a 623 metros acima do nível do mar, a segunda a, apenas, 143 mts.
Areia é uma cidade cheia de tradições, descreve Joaquim Ignácio. E lembra que nessa cidade refugiaram-se os revoltosos pernambucanos da chamada revolução praieira, após o juiz municipal Maximiano Machado e o delegado coronel Joaquim dos Santos Leal demitirem-se de seus cargos para aderirem à causa rebelde. À época da visita, 1924, o município contava 102 engenhos de rapadura, 160 açudes, maquinas de beneficiar algodão e café e 74 fazendas de criação. De Areia, o nosso visitante partiu para Arara, Moreno, Bananeiras, Borborema, Serraria e Pilões. Em cada uma dessas cidades e distritos, deixa a impressão d e sua passagem. É a região do brejo que, no dizer de José Américo “Deus reservou esse oásis de graça e de fartura para prover as crises que nos salteiam”.
A cultura cafeeira foi objeto de comentários diversos. Registrou o escritor, por exemplo, que a variedade da rubiácea plantada no brejo carecia de uma ampla sombreagem. O café crescia à sombra de mulungus, ingás e, principalmente, da vassourinha. O modelo foi introduzido pelo coronel Targino Neves, prócer político e cafeicultor bananeirense por volta de 1884. Bananeiras era o maior produtor e contava cerca de dez milhões de pés de café, representando quase quatro milhões de quilos colhidos por ano. A produção brejeira chegava a quase sete milhões de quilos e abrangia a área de Areia, Serraria e Araruna para citar os maiores. Uma praga que até hoje dizem que foi plantada pelos produtores sulistas, dizimou o café paraibano.
A civilização do café é retratada ainda hoje pelos sobrados edificados pelos barões do café. Era o traço da opulência e da fartura. Muito pouco se escreveu a respeito. Sobraram poucos registros. O folclore legou esse pequeno verso: “Quem tiver sua filha moça/não mande apanhar café/ Se for menina, vem moça/ se for moça, vem muié/. (nas transcrições, mantive a grafia da época))