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UMA VÍRGULA MUITO CARA (RAMALHO LEITE)

A vírgula, sem tirar nem por, não passa de um sinal de pontuação indicando uma pausa ou separando os membros integrantes de uma frase. Colocar a vírgula no lugar certo não é para todo mundo. Muita gente, eu inclusive, vou gastando vírgulas até enquanto posso para depois ir economizando.
Está bem longe o tempo em que minha professora Lourdinha Costa ensinava algumas regras de pontuação e em casa, meu pai ajudava transcrevendo para um caderno, em sua letra aprimorada, aquelas noções de como normatizar as disposições das palavras nas frases.
-Não se usa a vírgula entre o sujeito e o predicado; entre o verbo e seus objetos. Usa-se a vírgula para marcar a omissão do verbo e também o nome do lugar, anteposto à data…
Esse nariz de cera vem a propósito de um convite de A União para o lançamento do seu novo projeto a partir deste dia 02 de fevereiro de 2011 quando completaria 118 anos. Fui levar em mãos o convite a Juarez Farias e quem desejasse ficar em paz com os seus erros, não os deveria mostrar a Juarez. Ele contestou de imediato a posição das vírgulas. Procurei justificar que as vírgulas estavam a separar, como dizem os portugas, uma oração intercalada, mas não adiantou. Tive que me render aos argumentos. O homem presidia a Academia Paraibana de Letras.
Outro impaciente com as vírgulas, este em sua forma oral era Zé Dantas. Nascido em Pilõezinhos, andado pelo mundo e no final da vida vereador em Borborema.Era um contador de histórias.Gostava de falar e ser ouvido sem interrupções e, quando isso ocorria, o interlocutor era severamente admoestado:
-Não me aparteie em vírgula!Espere que eu faça ponto!
Preocupado com a sintaxe e vaidoso com seus escritos, Pedro Gondim não perdoava o erro cometido quando escrevia. Mesmo “escondido” sob o pseudônimo de Homero Morgon, mantinha a mesma responsabilidade gramatical em seus textos tidos pela oposição como rebuscados e de difícil interpretação.
Na véspera do Natal de 1964, o então Governador da Paraíba enviou sua Mensagem de Fim de Ano para publicação no Jornal do Comercio e no Diário de Pernambuco. Naquela época, a opinião pública se aquartelava no Recife e esses periódicos alcançavam grande circulação.
Nesse tempo eu incursionava pelo jornalismo vinculado à Sala de Imprensa do Palácio, embrião da SECOM de hoje. O jornalista José Barbosa de Souza Lima me mandou chamar para uma missão do Governador. Ele cometera um equívoco (pois Governador não comete erro) e colocara uma vírgula em local indesejado na sua mensagem natalina. Não existia internet, muito menos fax e o telefone era questão de sorte.A correção tinha que ser à mão, de corpo presente.
Parti para o Recife no avião do Estado. O piloto Jorge com sua competência me deixou nos Guararapes em meia hora. Peguei um carro de praça que na capital pernambucana já se chamava Taxi e fui à redação dos dois respeitáveis órgãos de imprensa do estado vizinho. No setor de revisão, pedi para ver o texto, retirei as vírgulas e regressei ao avião. Perto das cinco horas, pousei no Aeroclube.
Foi a vírgula mais cara de que tive notícia. Mas o que não se faz para deixar um governador satisfeito?…