Um freio de arrumação (escrito em março de 2020… merece reflexão).
Ei, volta para casa,
Lá terá cura,
Na adversidade dura,
Mostrarei o caminho,
Não vai estar sozinho,
Com muita atribulação…
Num freio de arrumação.
Precisava o tempo parar,
Purificar a água do mar,
Avião não polui o ar,
Nas ruas, nos becos e vilas,
Com medo e sem ruínas,
Desespero e aflição…
Num freio de arrumação.
O vizinho se olhou,
Querendo agora abraçar,
Preferiu o aguardar do tempo,
Agora, de longe,
Decidiu: vou lhe cuidar!
Dentro de um turbilhão…
Num freio de arrumação.
Não deu tempo arrumar,
O escritório para sair,
Foi assim, tão de repente,
Que sorri, todo contente…
De você nem despedi,
Resta a lágrima em escorridão…
Num freio de arrumação.
Mudou o culto,
A novena e a oração,
Mudou a missa,
Que de longe ouvida,
Causou mais devoção,
Despertou mais a fé…
Nesse freio de arrumação.
Ainda olhei nos pastos,
Verdes campos e campinas,
Sem caça, nem matança,
Desce a água mais límpida,
Canto de cachoeira ecoa,
É a mata que reza…
No freio de arrumação.
E quando o dia amanhece,
Vejo pavor e aflição,
Naquele que não parava mais,
Pois, correria era a ação,
Hoje olha as cores,
Os ares e odores…
De um freio de arrumação.
Chega a tarde, pôr do sol,
Parece conspiração,
Vem a notícia boa,
Pois parece extinção,
Esperança,
No romper da nova aurora…
É freio de arrumação.
Noite, oh, noite, sem praça,
Sem goles e violão,
Esperança me resta,
Diante da prece e oração,
Que o outro dia virá,
E pulsaram outras paisagens…
No freio de arrumação.
Vi que tudo estava mudando,
Até os traçados do chão,
Atrapalha o dia da semana,
Sem rumo e precisão,
Sigo o Norte que norteia,
A passos trêmulos vagueia…
Freio de arrumação.
Repenso a vida,
Sei que tenho força,
Perdão ainda vou dar,
Gratidão a receber,
Também quero perdoar,
E gratidão oferecer…
Só freio de arrumação.
Olhei para mim,
Estou vivo!
Consigo, o que tem a conversar?
Me encontrar, contar verdades,
Que só eu posso escutar,
Sem medo, nem ebulição…
Nesse freio de arrumação.
Por onde você andava,
Há 15 dias passados?
Longe do que vive agora,
hoje caminha em quadrado,
Pois é o canto escolhido,
Nestes tempos de escuridão…
Depois do freio de arrumação.
Mesmo num trajeto curto,
Olha os passos pisados,
Tem rastro e companhia,
Está mais fácil o rastreado,
Firmes, os trêmulos,
São refletidos ao chão…
Depois do freio de arrumação.
Quem eu sou?
Quem sou eu?
Pai, onde errei?
Errei demais, peço perdão!
Agora vejo, andei por longe,
São dores do coração,
Tudo dolorido…
É freio de arrumação.
Ainda a ganância, o dinheiro,
A inveja, corrupção,
Farras, idolatrias,
Desrespeito e ostentação,
Os valores foram refeitos,
Atentem para o efeito…
Depois do freio de arrumação.
Estava sem prumo, sem norte,
Sem medo, sem noção,
Não tinha medo da morte,
Era tudo ficção,
Hoje valor total à vida,
Com toda convicção,
Veio junto um vírus…
No freio de arrumação.
Para vencer?
Muito o que, pra muitos,
Era pura gozação,
Ficar em casa,
Ver a família,
Também lavar as mãos,
Isso salva a vida…
No freio de arrumação.
Foi sem fronteiras,
Que rompeu a contaminação,
Surgiu no Ocidente,
No Oriente proliferação,
Sem medidas tamanhas,
Na humanidade, devastação…
Um freio, desarrumação.
Homem, menino e mulher,
Idoso e jovem,
A medicina em ação,
Sem vacina ainda,
Dúvidas na medicação,
Seguem homens e cobaias…
Nesse freio de arrumação.
A noite me traz a rima,
Nesses dias de isolação,
Morte, vida, Severina,
Um alento com solidão,
Ser humano se ajoelha,
Faz a Deus a oração…
Nesse freio de arrumação.
Confessa que é fraco,
Pecador e sem razão,
Que feriu o mundo,
Traiu seu coração,
Reconhece que errou,
É hora do perdão,
Ele o perdoa…
Nesse freio de arrumação.
Chora, ecoa seu grito,
A Deus pode, faz em oração,
Se despe de seu pecado,
Roga, clama de coração,
Já é chegado o tempo,
De recomeço e ressignificação,
Vai recomeçar a vida… Depois do freio de arrumação…
De um dia de Domingo.
Dunga Jr.