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Um eclipse solar, em 1973, numa cidade do interior… E eu estava lá! (Carlos Marques Dunga Jr)

Um eclipse solar, em 1973, numa cidade do interior… E eu estava lá!

Uma das maiores bênçãos que Deus me deu foi ter sido criado numa cidadezinha do interior, daquelas que acorda e adormece mais pertinho de Deus. Lá, onde os vizinhos sabem seus nomes; lá, onde se tem sempre um bom dia, uma boa tarde e um boa noite; lá, onde se tem a hora do terço e da Ave Maria; lá, onde se sabe da vida de todo mundo, e todo mundo tem uma a contar e duas a dizer; lá, onde se tratavam os de mais idade de Senhor e Senhora; lá, onde se namorava na praça e de onde se fugia para casar. Isso é um pedaço do meu interior…
Imaginem quando, em 1973, também aconteceu um eclipse solar.
Eu era um menino do interior, raiz. Minha residência era a de número 6, na rua Félix Araújo, em Boqueirão-PB. Tinha uma irmã cúmplice e amigos inseparáveis, como Margareth, Marlon, Cristina, Tânia, Vaninha, Toinho, e muitos outros. Morávamos na mesma rua: era a rua mais animada da história do mundo.
Soubemos da passagem do eclipse, dia e hora. Com a passagem do de hoje, vi tantos requisitos e proteções, que lembrei, junto a minha irmã, dos nossos apetrechos de segurança naquela época. Folha de RX era luxo; vidro quebrado esfumaçado na vela ou no candeeiro de gás, para ficar mais preto; garrafa de cerveja do vidro escuro eram os mais nobres e sustentáveis.
Desde o dia anterior já comentávamos como seria o dia seguinte, já que havia a previsão do mundo acabar também. Ficamos “desintrigados” de todos. Fomos à calçada da Igreja para pedir o perdão dos pecados. Fomos à casa dos vizinhos pedir desculpas pelos malfeitos. Tudo isso, eu, Carleusa e Margareth.
Chegado o dia, passamos o tempo todo olhando o sol, pelos vidros esfumaçados. Eu e Margareth tínhamos 7 anos de idade, e minha irmã, 5. Então, nas idas e vindas na rua, minha irmã, que sempre teve os olhos azuis mais lindos do mundo, olhava para mim e dizia: – “Junior”, não solte a minha mão que, se escurecer, eu posso me perder. Ainda minha mãe estava grávida de meu terceiro irmão Carlos José e foi aconselhada a ficar o dia todo olhando o eclipse para não prejudicar o bebê, “Carlos José nasce com um sinal na barriga, creditado ao eclipse”.
Observando tudo isso que aconteceu neste 14/10/2023, vi a lindeza de todo o eclipse acompanhado de Bia, minha filha de 12 anos; Ana, minha companheira; meus pais, Dunga e Neuza. Troquei mensagens e imagens durante o eclipse. Rimos muito, mas, um gesto quero repetir: a minha irmã, agora eu que digo, – “Não solte minha mão, pois, se escurecer, posso me perder. Te amo muito, minha irmã”.
Margareth, Marlon, Cristina, Toinho, Vaninha, e tantos outros: ficaram nossas pegadas, nas calçadas de uma cidade do interior.
De um dia de domingo
Carlos Marques Dunga Jr
15/10/2023