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Blog do Vavá da Luz

TIÃO LUCENA EM : Porque hoje é sábado

 


 

Meus blogueiros preferidos (que Vavá, Fred,Bibiu, Miguel e Geordinho não morram de ciúmes, porque eles também o são) Zé Duarte e Sabrina Barbosa informam, festivos, a chegada das chuvas na região de Princesa. Os dois dizem que choveu de entupigaitar e que o Jatobá já está tomando boa água. De São José o poeta Rena Bezerra endossa as informações e posta fotos de barreiros enchendo, rio criando água e matuto sorrindo.
Isso é muito bom, isso é bom demais, é muito ótimo demais. O sertanejo com a chuva fica afoito, alegre, feliz e valente. Por isso me ufano com a chuva e retorno aos vossos olhos um texto que escrevi já faz um tempinho sobre “A Festa da Invernada” no sertão, que diz o seguinte:

“As serras do meu sertão ganharam roupa verde e estão mais bonitas. A água voltou, enchendo as beiras das estradas e fazendo a alegria da meninada que pinota nos barreiros como se fossem piabas subindo as águas do rio em busca da desova. O mato seco, cheio de garranchos, de repente renasceu, criou folhas e cheiro. E o boi, que derrapava os cascos na terra bruta e dura, agora os atola na lama mole e gostosa da fartura.
De preto mesmo no meu sertão só se avista o asfalto da estrada, que se parece com um cinturão escuro a dividir a barriga da terra. Os lados da estrada estão cercados de marmeleiros floridos, juremas enfolhadas, juazeiros risonhos, canafístulas orvalhadas e roçados que nascem à cada 100 metros pelas mãos calejadas e esperançosas do sertanejo forte e bravo, que desta vez acredita na benevolência de São Pedro.
O milho plantado já desabrochou, o feijão também, se estendendo pelo campo até se perder de vista. Parecem meninos travessos se encurvando no chão limpo pela enxada três oitavas do matuto lutador.
Vi açudes sangrando, com as águas caindo pelas lâminas dos sangradouros como se fossem lágrimas de contentamento. Também vi o céu coberto de nuvens de buchos cheios de água, anunciando nova chuvarada. Só faltou ouvir o trovão e o riscado de fogo do relâmpago no céu, como costumava avistar nos dias de meninice encantada na Serra do Gavião da minha Princesa.
Mas ainda há tempo para ver tudo isso, já que o inverno mandou dizer que está gostando daqui e não pretende ir embora tão cedo.
A TRAVESSIA
O Rio Macapá tomara água como nunca. Estava de canto a canto, levando consigo toras de baraúnas, juazeiros inteiros, bois desgarrados e outros bichos arrancados do chão como se fossem simples objetos descartáveis.
O velho Miguel Fotógrafo esqueceu da enchente e quando deixava a roça, no final da tarde, retornando para casa, viu que o caminho estava tomado. E o pior: me trazia a tira-colo, ainda de calças curtas e olhando aquele mundão de água como se fosse o maior espetáculo da terra.
Chovia como a gota serena e ele só tinha duas opções: esperar a água baixar ou atravessar a nado, levando o filhote na cacunda. A saudade de Emília, a lembrança do cafezinho quente, torrado no caco, que ajudava na descida do bolo de milho feito no caco também, falou mais alto. E Miguel, com apenas um metro e sessenta e poucos centímetros, se agigantou, me botou nas costas e jogou-se na água bravia do Macapá. Nadou, enfrentou correnteza, trovões e relämpagos, mas chegou ao outro lado.
Depois, foi só seguir a estrada em direção à casinha da Rua do Canção, onde Emília o esperava sentada na calçada, ouvindo o tocar suave do cavaquinho de Zé Birrim.”
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Dona Emilia, Seu Miguel e Zé Birrim já não habitam esse cenário, chamados que foram para alegrar a roça do céu. Mas nós outros aqui continuamos, torcendo para que a chuva continue caindo e enchendo de esperança esse sertão tão desiludido.
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Segundo o serviço de metereologia, vai continuar chovendo no sertão e no cariri. No brejo já chove faz tempo. Segundo as experiências de Zacarias Cachorro Doido, se o ovo do jumento suar, o inverno vem de tuia. Vamos olhar os ovos dos jegues e descobrir se este ano o matuto tira a barriga da miséria.
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E agora lá se vão meus abraços para Manoel Caboclo, Severino de Vitalina, Chico Röla, Zé de Edezel, Tito de Tozinho, Chico de Mourão, Maria Doida, Zefa da Pedreira, Cicero de Adauto, Roque Fogueteiro, Dilma Roussef, Fernando Henrique Cardoso, Gloria Pires, Roberto Carlos, Chico Buarque de Holanda e Quidute Malaquias.
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Um casal de velhinhos sentou à mesa da lanchonete, o velhinho pediu um pão fancês com queijo, dois copos de refrigerantes, partiu o pão ao meio, botou uma metade diante da esposa velhinha e começou a comer a sua metade, enquanto a velhinha só espiava e a moça do balcão idem. A certa altura, a moça não se conteve e interpelou a velhinha:
-A senhora está com fastio? 
E a velhinha:
-Tô não, minha filha, é que só posso comer depois que meu velho terminar de comer o sanduíche dele e me emprestar a chapa.