Sobre doidos e bêbados
Marcos Pires
Dizem que Deus tem um carinho especial pelos que atraem doidos e bêbados. Se é verdade o meu crédito lá no céu é enorme. De certeza sei que o meu colega escritor Ariano Suassuna afirmava gostar de histórias de doido, talvez até por identificação.
Meus amigos sabem que se eu estiver em qualquer lugar acompanhado por dezenas de pessoas e chegar um doido ou um bêbado, adivinhem quem ele vai procurar em primeiro lugar? Poderia contar dezenas de histórias minhas com doidos, porém por falta de espaço escolhi apenas uma para ilustrar essa condição.
Quem anda na calçadinha da praia lembra com certeza de Seu Carlos Alberto, um “doce” doidinho. Pois muito que bem; numa determinada manhã em que eu aniversariava, decidi caminhar sozinho, coloquei os fones e ouvindo as músicas que adoro num volume altíssimo. Não notei que Seu Carlos Alberto vinha logo atrás de mim e apressei o passo. À medida que nos distanciávamos ele começou a gritar a e correr me seguindo: “-Ei, seu m…, pare aí, seu fdp…”, desfiando todos os palavrões que conhecia. Outros caminhantes que viram aquela inusitada cena começaram a acompanhar seu Carlos Alberto na certeza de que quando ele me alcançasse haveria uma briga porque dava a impressão de que eu apressara o passo com medo dele. Até que finalmente parei, virei-me e vi seu Carlos Alberto vindo em minha direção muito esbaforido e umas vinte pessoas acompanhando-o. Ao me alcançar deu-me um abraço e desejou feliz aniversário. Fomos bastante aplaudidos.
Dos bebinhos queridos cito uma história que aconteceu com Jacaré, de saudosa memória. O pinguço me pediu uma grana emprestada para comprar e revender CDs piratas do padre Marcelo Rossi, que naquela noite faria um show na praia de Tambaú. Dia seguinte ele me procurou e disse que ao invés de me pagar iria investir no comercio de DVDs e começou a vender os piratex no Centro Administrativo em Jaguaribe. Posteriormente amigos disseram-me que ele estava progredindo e que já tinha uma barraca ao lado da secretaria de finanças, onde comerciava dezenas de DVDs todo dia, até que… um novo Governador assumiu e mandou acabar com aquela safadeza de venda de DVDs piratas na sede do Poder. Dias depois encontrei com Jacaré, já mamado e triste. Com aquela voz pastosa gritou: “- Êêêêê Dr. Marcos, quebramos”.
E eu que nem sabia haver entrado nesse ramo de bandidagem….