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SILENTIUM EST AUREUM ( MARCOS SOUTO MAIOR (*)

 

                Tenho certeza de que o povo não aguenta mais tanto barulho, diuturnamente, ensurdecedor, sendo qualquer hora do dia, na insuportável circulação de automóveis, caminhões, ônibus e destaque para o destempero dos motociclistas, que abrem propositalmente seus canos de escapamento, cheios de fumaça tóxica das máquina ruidosas, soprando para quem não deseja engolir e suportar, se intoxicar com gás carbônico. Tem até lei que limita em três decibéis e os agentes de trânsito são destacados para coibir a infração pesada contudo, não existe nenhum decibelímetro na maioria dos Estados do Brasil e a medição de ruídos é sempre feita ‘de ouvido’, o que significa dizer: nada mesmo!

                Olhando para o passado, vejo que o silêncio não existe mais em locais civilizados, a exemplo dos claustros que ainda existem em todo mundo, mantendo uma vida monástica e, ainda menino, ouvia no quintal da modesta casa de meus familiares, a voz dos pátios internos dos conventos dos frades, das ordens dos Franciscanos e de Santo Antônio, eram elevados pela música religiosa que completava as orações contemplativas semanais, que imagino ter exigido o silentium de um tempo calmo, para os momentos felizes em todo o nordeste. Hoje, somente em momentos importantes do catolicismo, os grupos de padres cantores soltam as vozes masculinas, quando desde o século VI por ordem do Papa São Gregório Magno, passou-se a usar os cantos que foram consagrados como gregorianos, nas celebrações da Igreja Católica. Santo Agostinho entusiasmou-se com o grande momento da música católica, que explicou ser uma oração cantada ao dizer “quem canta, ora duas vezes”.

                E foi soltando suas vozes respeitadas pelo mundo que dois homens das muitas letras ousaram optar pelo silêncio. Leonardo Da Vinci, que foi Cientista, Artista e Engenheiro, apresentou “As mais lindas palavras de amor, são ditas no silêncio de um olhar”. No mesmo diapasão, o Filósofo e Matemático francês, Blaise Pascal, disse: “Em amor um silêncio vale mais do que uma linguagem. É bom ficar sem palavras; há eloquência no silêncio que penetra mais do que a língua o conseguiria.”     Verdadeiramente, sentimos na pele que o barulho insensato e a gritaria estridente sem sentido para a população, resistem para uma maioria imprudente que relaxa o que aparecer, entretanto, precisando tentar saber o que é convivência entre pessoas e, consigo próprio. O pai da teoria da relatividade, consagrado cientista, Albert Einstein, teria dito a quem quisesse ouvir: “Penso noventa e nove vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho no silêncio, e na verdade me é revelada.”  E seria assim se houvesse a boa iniciativa do poder público, em todas as alçadas, visando uma campanha geral de politização contra a poluição sonora e pela paz.

                O silêncio é direito unipessoal e imortal, em qualquer canto e lugar. Danado é que cada cidadão se arvora em querer postar, o que bem entende e pode, renegando as poucas oportunidades naturais de poder apenas restringir o que chega aos limites da própria vida. Não há consolo para quem ouve o que não quer… até porque o tempo não tem tolerância de esperar, nem repassar o que se foi, igualmente a um estampido de tiro com arma de fogo, quando detona no final, matando silenciosamente a tranquilidade do povo! A esperança da população é marcada, sim, pelo puro manifesto imortal nas lamentações passadas.

 

                                                                                          (*) Advogado e desembargador aposentado