Seu Firmino e a Tapiocaria – Diario do Sertao
ÊTA TAPIOCA BOA! Esse foi o lema que marcou a ‘Tapiocaria do Irmão Firmino’ localizada no distrito do Cajá – pertencente a Caldas Brandão-PB – espaço concorrido por viajantes que passam no km 86 rumo a capital ou interior… Seu Firmino, muito conhecido em todo o Estado, nos deixou no dia 27 de março de 2018 aos 69 anos; seu legado é marcante na gastronomia paraibana e vamos aqui neste texto tentar explicar um pouco de sua importância.
Para entender a relevância do que significou a tapiocaria e o empreendedorismo de José Firmino Sobrinho, se faz necessário voltar um pouco no tempo. Os viajantes que iam de Campina Grande (e de parte do interior do estado) para João Pessoa, paravam no Riachão do Bacamarte, principalmente no restaurante O Cruzeiro, para fazer um lanche e a condição de estar na “beira da estrada”, desenvolveu o comércio alimentício naquelas cercanias. Por muitos anos a BR 230, principal rodovia da Paraíba, passava no Riachão em mão-dupla. Parar no Cajá não era prática corriqueira, por vezes o posto Planalto (já em Santa Rita) poderia ser uma segunda parada para lanche e toilette. Quem partia de João Pessoa para o interior também não tinha o hábito de parar no Cajá (até o Café do Vento era mais movimentado), isso até meados da década de 1990, quando o Irmão Firmino num ato genial transforma a feitura da tapioca em espetáculo.
A arte de fazer a tapioca foi espetacularizada, tínhamos a partir de então esta iguaria de origem indígena sendo produzida na hora e aos olhos do cliente com toques malabares, jovens da própria cidade aprenderam o “traquejo” e faziam pelo menos 12 tapiocas por vez em fogões de duas bocas alinhados no balcão.
Primeiro a massa é espalhada rapidamente nas pequenas frigideiras padronizadas, uma peça de queijo coalho é ralada na hora em vários desses discos de mandioca; é colocado manteiga da terra e em movimentos rápidos são inseridas fartas misturas de ingredientes desejados; os sabores tradicionais (queijo e coco) receberam a companhia de um sem número de sabores (bacon, carne de sol, frango, calabresa, etc.) transformando aquela tapioca caseira em uma receita única. O tapioqueiro finaliza com mais um pouco de mandioca por cima de tudo e em instantes vira a tapioca jogando-a para cima em seguida recolhendo-as em mãos nuas, impressionando os observadores que se avolumam “na beira do balcão” para ver a cena. Era um espetáculo ver aquilo, a habilidade do tapioqueiro envolto de uma leve fumaça e aquele cheiro de tapioca tomando conta de todos os espaços… elevando a fome da clientela.
Parte da produção – Cesar Barbosa
O sucesso foi tamanho que Firmino ampliou o negócio para os lados e depois para trás, e gerou uma concorrência enorme formando hoje uma grande área de alimentação às margens da BR 230. Vemos quem copie o nome: “Irmão fulano da Tapioca” ou quem passou a usar a iguaria como nome do empreendimento “Fulana da tapioca”, tentando repetir o sucesso. O Cajá virou sinônimo de Tapioca. Veio a duplicação da BR 230 inaugurada em 2009 e o Irmão Firmino criou outra unidade, assim quem desce ou sobe a BR passando pelo Cajá pode degustar a Tapioca: Êta tapioca boa…
Com simpatia sem igual, Irmão Firmino ligava um microfone em uma caixa amplificadora e com seu vozeirão contava anedotas, brincava com as crianças e repetia sempre frases como: “Você que está indo para João Pessoa, você que está indo ao sertão, você está no Cajá, distrito de Caldas Brandão, no km 86 da BR 230. Aqui é o Irmão Firmino que tem tudo prontinho para você. Êta-tapioca boa… Na Paraíba há várias cidades com a letra C, de Cabedelo a Cajazeiras você tem que passar pelo Cajá…”
Ex-vereador em Caldas Brandão, evangélico fervoroso, Irmão Firmino nos deixou saudades. Gerson, seu filho, é quem tem a missão de continuar com a Tapiocaria, lembrando o ensinamento e os ideais do pai que sempre respondia ao meu ‘Como vai Seu Firmino?’ com a frase: “Nada a reclamar, só agradecer”