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São Thomas More em Brasília ( Marcos Pires )

     Sempre que o STF decide qualquer questão com base no parágrafo 4º do artigo 60 da nossa Constituição é comum vermos os arreganhos de ignorância de alguns parlamentares ameaçando modificar tais entendimentos através de uma PEC. O analfabetismo deles não compreende o que são cláusulas pétreas.

    Pois muito bem; aprendam com Thomas More, que aos 43 anos foi nomeado cavaleiro e logo depois assumiu a condição de secretário e conselheiro do rei Henrique VIII. Gênio, naquela época escreveu sua obra prima Utopia e de quebra a biografia de Ricardo III, inspirando ninguém menos que Shakespeare. É daquele tempo sua amizade com Erasmo, que hospedava-se em sua casa e ali escreveu o Elogio da loucura, dedicando a obra ao anfitrião. Aos 51 anos foi nomeado Lorde Chanceler da Inglaterra, o primeiro laico a ocupar o posto. O rei Henrique VIII nomeou More em substituição ao Cardeal Wolsey porque ele não conseguira convencer o Papa a anular o casamento do rei com Catarina de Aragão para que casasse com Ana Bolena, que insistia em somente transar depois de casada.

   Achar que as convicções religiosas de More poderiam fazer dele um aliado nessa empreitada foi bobagem. Porém enquanto as coisas iam de mal a pior entre os dois, Henrique nomeou Thomas Cranmer como primaz de Canterbury, o mais alto cargo eclesiástico católico da Inglaterra. E o que fez Cranmer? Validou o casamento do rei com Ana Bolena. A Santa Sé reagiu a anulou o casamento. More caiu fora e em seu lugar assumiu outro Thomas, o Cromwell. Em seguida o subserviente parlamento inglês editou dois decretos; o Act of Succession, que legitimava o casamento do rei com Ana Bolena e o Act os Supremacy, onde reconhecia-se o rei como chefe da igreja da Inglaterra. Pronto, a quizumba estava armada porque todos foram convocados a jurar submissão aos atos, porém Thomas More necas de pitibiriba. Foi condenado à morte por enforcamento, decapitação e esquartejamento, porém permaneceu firme, demonstrando que não havia legitimidade do parlamento em criar normas que entrassem em conflito com a base institucional inglesa. Posteriormente o rei modificou a sentença em atenção à amizade que nutria por More, suprimindo o enforcamento e o esquartejamento, persistindo somente a decapitação. Ao saber disso, More comentou: “-Não permita Deus que o rei tenha semelhante clemencia com seus outros amigos…”.

   A igreja católica reconheceu-o Santo. Já esses parlamentares que vez por outra ameaçam as cláusulas pétreas estão com um pé no inferno