Rua João da Silva Pimentel
Rua João da Silva Pimentel, olhando para o centro da cidade
É O NOME DE UMA das ruas centrais de Campina Grande. Antiga Travessa do Lapa, exatamente por cortar a também antiga Rua do Lapa (hoje Pres. Epitácio Pessoa). A via é um prolongamento da Índios Cariris, tomando este nome após a esquina com a Rua João Suassuna, indo até o canal do bairro da Conceição.
Quem foi João da Silva Pimentel? Seus dados estão incompletos. Segundo o ‘Memorial Urbano de Campina Grande’ (1996), ele nasceu em Pernambuco e por recomendações médicas veio respirar o ar da Serra da Borborema. Em Campina, atuou no comércio de tecidos, miudezas e chapéus. Fundou a ‘Loja da Estrela’ na antiga Rua do Seridó (hoje Maciel Pinheiro), próximo a antiga Praça Epitácio Pessoa, que se formava defronte ao Pavilhão Epitácio e que sucumbiu com a reforma urbana do ex Prefeito Vergniaud Borborema Wanderley a partir da década de 1930. O Pavilhão, construído em 1923, foi sede do clube Grêmio Renascença 31 (vizinho ao sobrado de Cristiano Lauritzen), continua exibindo sua imponência, testemunha de uma Campina da República Velha que a modernidade escondeu atrás do Art déco da Livraria Pedrosa. Pimentel, mais um “leal forasteiro” (como traz o hino oficial da cidade), faleceu em 23 de novembro de 1910 e hoje está imortalizado dando nome a esta rua.
Atualmente, ela possui um intenso movimento com suas inúmeras lojas de ferragens, venda e conserto de autopeças, além de várias equipadoras de automóveis. É nela que funciona uma destacada e curiosa oficina cujo serviço me intrigou desde a adolescência. Seu nome é ‘Temistão das Portas’, até aí tudo bem. Imaginava que ele fazia reparos na lataria, vidros e forro, mas abaixo estava escrito em letras garrafais: especialista em “reapertos internos em geral”. E por muito tempo aquele reaperto não saiu de minha mente, até que, com a passagem dos anos, precisei de um serviço e Seu Paulo Roberto, meu pai, indicou que lá eu fosse: “Vá lá em Temistão meu filho que ele resolve!”
Sem saber direito onde era a tal oficina, segui a sua indicação a partir da Av. Getúlio Vargas: “Vá aqui em frente e desça ali na esquina do Dr. Maia, depois pode ir direto, é do lado direito”. Fiz tudo como ele mandou.
Temistão em serviço
Cheguei com meu fiatzinho ‘Uno Mille’ verde com seus treze anos de uso, mas muito bem zelado. Chamei o tal Temistão e mostrei o problema: a porta do meu lado (do motorista) começou a fazer um barulho feio quando abria além metade. Temistão, sem pestanejar, lançou um olhar clínico. Com a mão encostada ao queixo, inclinou a cabeça para um lado, para o outro, agarrou a porta (com uma mão embaixo e outra acima) e a suspendeu, o que fez dar um grande estalo; em seguida, abriu e fechou a porta várias vezes passando pelo ângulo onde o ruído se apresentava, constatando que já não tinha mais nenhuma zoada. Eu achei que ele fosse arrancar a porta! Após lubrificá-la, sorrindo com minha cara de surpresa, liberou o carro. Afirmei ter a impressão de que já o conhecia de algum lugar e logo lembrei que o avistei algumas vezes nas arquibancadas do estádio Presidente Vargas, onde o nosso Treze Futebol Clube manda suas partidas. Ele confirmou: “Sou Galo desde pequeno!”.
O Temistão é, na verdade, apelido do mecânico/empresário Sr. Temístocles. Me confidenciou com orgulho que aos doze anos aprendeu junto a seu pai a arte tirar qualquer tipo de “rangedeira”, barulho metálico ou plástico de qualquer que seja o veículo, desde o painel e forros, até mesmo as portas. A experiência de 45 anos de serviço, quase quarenta deles no mesmo endereço, o leva a soluções rápidas. Muitas de suas ferramentas são de fabricação própria, criada pela necessidade de cada tipo de serviço a realizar. Isso só demonstra a sua especificidade e a destreza daquele ofício.
Desci a João da Silva Pimentel devagar. Na esquina lembrei dos antigos nomes daquelas artérias centrais, observei várias casas comerciais, lembrando e sorrindo da curiosidade do termo “reapertos em geral” do Temistão. Coisas de Campina!