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RECUPEREMOS O ESPÍRITO NATALINO

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O Natal é antes de tudo um estado de espírito. Precisamos compreender bem o significado desta noite, que é a celebração do nascimento de Jesus, embora não se tenha a certeza de que foi realmente esta a data em que nasceu. Mas, deve ser um momento de reflexão, de acolhimento e de renovação, em que possamos compartilhar amor e solidariedade. Que não seja apenas uma festa em que se trocam presentes, mas que a alegria despertada em cada um de nós nesta data permaneça por todos os dias do ano.

A celebração do Natal nos induz a decorar e iluminar árvores, montar presépios, chamar o Papai Noel para presentear as crianças que ainda acreditam nele, enviar mensagens de boas festas para os familiares e amigos, reunirmo-nos em torno de uma mesa com diversidade de pratos, sobremesas e bebidas tradicionais, quando isso é possível. Uma festa com motivação religiosa, abrindo espaço para o profano. Pratica-se um cristianismo de aparência, perdendo a sua dimensão estritamente cristã, misturando tradições de muitas origens com o consumismo desenfreado. Elementos religiosos e pagãos se confundem entre a festa e a liturgia.

A representação simbólica do Natal, em que Cristo nasce na humildade de uma manjedoura, numa periferia da cidade e sem registro oficial do seu nascimento, retrata bem uma grande parte da sociedade que vive na marginalidade, os desvalidos da sorte e do amparo social, sofrendo as consequências de suas origens. A comemoração deles é bem diferente da nossa, posicionados numa escala social melhor. O apelo comercial do capitalismo selvagem, de certa forma, desestimula a reflexão sobre a conjuntura econômica, quando essa massa empobrecida se torna invisível socialmente.

É necessário que percebamos que não só é importante repartir o pão físico, mas a vida plena de direitos, desde os direitos humanos essenciais até os sociais. O “Feliz Natal” deve ser “Feliz Vida”. O ideal é que o Natal seja verdadeiramente de todos. É inaceitável que continuemos fazendo de conta que não somos cúmplices dessa situação, ao negarmos encarar os males do mundo. Essa não é uma postura cristã. Jesus consolava os aflitos, procurava dignificar os escorraçados, orientava os caminhos aos que se encontravam perdidos. Bem diferente do comportamento egoísta que se vê entre os que ficam fora da faixa social dos desfavorecidos.

Frei Betto em um artigo intitulado “Promessas de Natal”, diz: “Neste Natal, porei em prática sábias lições de vida: pão que se guarda endurece o coração; a cabeça pensa onde os pés pisam; o contrário do medo não é a coragem, é a fé. Não darei lugar aos príncipes revestidos de palavras vãs, nem porei a minha confiança nos arautos surdos ao clamor dos desvalidos. Não mais farei de meu corpo mero adereço estranho ao espírito”. São afirmações que provocam reflexão.

Façamos com que entre os homens não aconteça que as relações de solidariedade cedam lugar ao ódio e às divergências intransigentes. Que este Natal seja uma luz resplandecente na noite dos que estão cegos pela ganância e pelo egoísmo. E assim possamos olhar com mais atenção para o mundo dos excluídos. Feliz Natal para todos os homens e mulheres solidários com os mais necessitados.

Rui Leitão

FELIZ NATAL