Ainda estamos no derradeiro dia da folia carnavalesca, mas já tem gente que acorda cedinho, para lavar o rosto tirando o suor e, bem abrindo os olhos para a quarta-feira ingrata de brincadeira nos quatro dias no reinado de Momo! Sim, antigamente eram apenas três dias, e hoje tem cidades que esticam por semanas inteiras com bandas e blocos contratadas a preço de ouro.
Meu impulso festivo levou-me à casa de veraneio da família, em Camboinha, contratamos uma bandinha de metais que marcaram o ritmo para o passo no terraço da praia indo, desde minhas queridas netinhas Vitória, Ritinha e Valentina, até o decano do grupo, desembargador Rivando Bezerra Cavalcanti. Homem exemplar, sisudo, respeitado e inteligente, na pública reverência feita pelos magistrados, advogados, promotores e o povo em geral.
Confesso que nesta terça-feira amanheci com meus braços, um tanto quanto doídos, aí me lembrando que dançara à vontade com duas netinhas, por vez, nos meus braços, quando sessentão não tem preparo físico para tanto…
Costume bem nordestino, uma baita feijoada com todos os ingredientes disponíveis soltava o cheiro característico que abria a vontade de forrar o estômago, para suportar as doses de uísque, cachaça, a cervejinha estupidamente gelada, e outras bebidas.
Falar em aroma, nos idos de 1961, o então presidente Jânio da Silva Quadros, acolheu recomendação do jornalista Flávio Cavalcanti, para baixar Decreto Presidencial para proibir a lança-perfume da marca argentina Rhodia, que por isto foi batizada de ‘Rodouro’, deixando saudades para os mais velhos daqueles tempos.
Agora, o leitor deve perguntar: ‘e as cinzas?’ São consequências inevitáveis do próprio tempo, outros da vida loucos pelo término do carnaval, temendo o que acontecerá no pós-carnaval. Como estamos em 2014, não podemos riscar do calendário que existem em nossos olhos, ouvidos e gargantas, duas bombas chiando nos ouvidos: Copa do Mundo e as Eleições para presidente, governadores e deputados.
As cinzas da quarta-feira, chamada de ‘ingrata’, tendem a sofrer com os ventos fortes soprando contra a insegurança, violência, corrupção, ganância, mentira e, em resumo, a miséria do brasileiro. Este, naturalmente se rende ao que já fazem sem querer: jejum e abstinência! Na antiquíssima tradição do Médio Oriente jogavam cinzas nas cabeças, como forma de profundo arrependimento ao nosso bom Deus, deixando a marca de uma cor fria.
Quarta-feira de cinzas está aí, bem pertinho de todos nós, para o que der e vier. Aliás, o circo, até já temos há muito tempo, com milhares de palhaços! Falta apenas o precioso pão que é cinicamente negado ou trocado, por votos impuros vendidos a qualquer preço. A terá-feira vai deixar, sim, muitas saudades por suspender seus vitais efeitos, apagando a luz do dia para mascarar o azul celestial, com cinza apática da tristeza, inconsequente e imprevidente. (*) Advogado e desembargador aposentado