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 Quando torturaram Jesus Cristo Damião Ramos Cavalcanti

 

 

   

 

                   Quando torturaram Jesus, a sexta-feira se santificou pelo torturado e não pelo torturador, que age ao avesso da santificação, devido ao seu ato perverso. Jesus Cristo já vinha sendo perseguido pelos sacerdotes, porque o povo preferia ouvir sua palavra de revelação, profética, santa e sábia, e rejeitar a dos “doutores da lei”, que assim perdiam a arrecadação do dízimo e dos animais que se doavam ao sacrifício no Templo. Foram esses sacerdotes que exigiram a pena de morte por crucificação. Mas, antes de crucificá-Lo, os perversos acharam a oportunidade de praticar injusto e desumano maltrato: cacetadas, cuspidas, furadas com a ponta das lanças, chicotadas, insultos, sede, coroa de espinhos, e o peso da cruz, descendo escadas e subindo ladeiras ao calvário, o que nos retrata a Via Crucis, fixada nas paredes das igrejas. Teatraliza-se quase assim no teatro da Paixão de Cristo em Nova Jerusalém, em João Pessoa, em Cuité e Cabedelo. O que falta, diz Milton Marques, é aprender com esse teatro.   
          O torturador sente prazer em matar aos poucos, e impõe ao torturado um continuado crescimento da dor, humilhando-o e exigindo confissões, delações, acusações contra si e contra ideias, amizades e a verdade de si mesmo, como isso fosse o único caminho para evitar tal sofrimento, mesmo se percebendo que o limite será a morte. Por mais que o sofrimento esteja ligado à existência humana, torturar é crime e para isso não há explicação, não é considerável como parte do sofrimento humano. Se sofrer é até compreensível, a tortura, nesse aspecto, jamais se torna admissível, como tampouco admitida seja no âmbito religioso, como aconteceu na Inquisição, seja, durante os regimes políticos autoritários, o que deve ser lembrado, entre nós, de mortos e desaparecidos.

                  Ninguém tem direito de torturar ou de suprimir a vida de ninguém, por tal razão a pena de morte é injustificável, mesmo que algum Estado se arvore, com direito, nessa “pena máxima”, usando termos de descabível ato na Justiça. Ao consciente cristão, o humano não é um ser para a morte, e sim para a vida, e isso significa a superação da morte. A própria Páscoa, em vida, nos dá tal sentido à morte, que seria uma passagem para uma vida sem fim… Quando morremos nos assemelhamos à morte do Cristo crucificado. E quando torturados sofrem tortura, assemelham-se a Cristo torturado, e em ambos os casos, há crime e pecado. É inconcebível que o cristão lamente a paixão de Cristo e venha, nos dias de hoje, consentir ou aprovar a tortura, e até prestigiar e elogiar torturador.
          A reflexão aqui proposta se desenvolve no interior da fé cristã, atualmente, quando ainda existem torturadores e torturados. Haveríamos perdido o valor e o sentido da vida? Deve se buscar essa grande verdade de quem revive, nesta Semana Santa, o sofrimento de Cristo, meditando o mistério e a realidade que isso é, na trajetória da nossa vida. Tal meditação alimenta nossa verdade interior, que nos acompanha nos nossos encontros e desencontros de cada um consigo mesmo. Verdade que é antes e depois de Cristo, de quando o torturaram, o que não desaparece no ontem, nem no hoje, tampouco no amanhã, disso concluo: a verdade não tem idade…   

 

        DESTAQUE: Quando torturaram Jesus, a Sexta-feira Santa se santificou pelo torturado e não pelo torturador   

Damião Ramos Cavalcanti

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