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Blog do Vavá da Luz

PRIMEIRA CONVERSA (2) (Apresentação do livro GENTE DO PASSADO, FATOS DO PRESENTE)

RAMALHO LEITE

Ao descobrir o Instituto Histórico e suas prateleiras de arquivos que escaparam das traças e da ação do tempo, mergulhei de máscara e luvas nesse tesouro do passado. Revisitei as minhas colunas de assuntos estudantis de A Tribuna do Povo, jornal da UDN dirigido por Clovis Bezerra e secretariado por Archimedes Cavalcanti, também membro do IHGP. Um exercício que entusiasma. Encontrei Pedro Gondim, governador dos paraibanos, na solidariedade à rebeldia do seu colega Leonel Brizola, pela manutenção do estado de direito e garantia da posse de Jango Goulart na Presidência da República. Li em ediç& atilde;o de O Comercio de 1900, o Cunha Lima, de Areia, denunciando atos de vandalismo praticados a partir de um  sobrado cedido por seu dono para ser os Correios e, ocupado, indevidamente, pela policia, que o teria transformado “em quartel de soldados, capangas e bandidos”.

Cheguei aos tempos em que já tinha noção dos acontecimentos e avistei Getúlio Vargas apaixonado pela noiva e, depois, esposa, do seu chefe de gabinete. Seria novidade se esse exemplo não viesse de longe, pois os poderosos sempre cultivaram a tese de que as esposas destinam-se à procriação e as amantes ao desfrute e ao prazer. Fui apresentado às amantes de Pedro I,   que desfrutaram  de serviços inconfessáveis patrocinador pelo Imperador, fossem  escravas da sua senzala  ou monjas de convento portugues . Suas filhas bastardas receberam títulos nobiliárquicos. Por falar em títulos, investiguei os nobres paraibanos e me demorei na figura do Barão de Araruna cujo nome foi aproveitado para personagem de telenovelas e no romance Sinhá Moça, mas existiu de verdade e foi coletor de impostos e chefe político de Bananeiras quando aquela Vila incorporava, inclusive, o atual município de Araruna. Pedro II puxou ao pai, todavia,  foi mais discreto em suas paixões. Segundo consta, porém, começou a cortejar a Condessa de Barral, preceptora de suas filhas, cutucando-a por debaixo da mesa, enquanto as filhas eram educadas em vários idiomas.

Cuidei também de lembrar fatos e atitudes de vários paraibanos ilustres. Mereceram atenção minha convivência com Pedro Gondim, João Agripino, Antonio Mariz, Dorgival Terceiro Neto, Edme Tavares, almirante Cândido Aragão, de geração mais recente. Da nascente República, paginei, em rápidas pinceladas, Venâncio Neiva, Álvaro Machado, Almeida Barreto, Aristides Lobo, pais da República mas que vieram do Império, como o Barão de Mamanguape   e o Barão de Abiaí.  Alguns assumiram o novo regime na Paraí ba por falta de  republicano para fazê-lo. Mas o exemplo vem do alto,  Deodoro da Fonseca, tido e havido como o Proclamador da Republica, era um monarquista empedernido e quase chora quando teve que despedir Pedro II.

A memória ainda funciona e aproveitei para reintronizar a figura de José Amâncio Ramalho, egresso de Araruna e que entre outros empreendimentos implantou em Camucá, depois Borborema, a terceira hidroelétrica do país. Revivi os tempos em que o alemão Guilherme Groth fez do meu pai seu sócio brasileiro e renasceu das cinzas, literalmente, depois que seu comércio foi incendiado no distrito de Moreno, hoje Solânea. Foi um vitima da guerra, mesmo a milhares de léguas do teatro de operações.

Para quem gosta de história, muitos textos são agradáveis passagens do passado e aproveitam o pitoresco, o inusitado e até o burlesco, deixando de lado o cientificismo histórico e tornando a narrativa mais atrativa. Exemplo disso: no golpe que implantou a Republica, o destaque ficou com o cavalo de Deodoro, cuja missão lhe rendeu a imortalidade em pintura a óleo e uma cota de capim até o fim da vida, longe do trabalho rotineiro do quartel e das ruas. Foi o inventor da sinecura.

O leitor vai encontrar  fatos e personagens do passado que servem de exemplo, em razão de acontecimentos do presente, como vai se deparar com fatos do presente que seriam deplorados por figuras do passado. O passado e o presente se entrelaçam e se encontram para mostrar cenários históricos que me pareceram merecedores de destaque.

Meus amigos: Comecem a ler e, tendo algo em contrário, que falem agora ou se calem para sempre. (Fundação Casa de José Américo, Tambaú,setembro 2016)