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Blog do Vavá da Luz

Presepadas de minha mãe. (Marcos Pires)

Presepadas de minha mãe.

Creusa Pires era tudo isso que dizem; simples, alegre, disposta…, mas há um lado dela que pouca gente conheceu. Um dia contarei da Bíblia branca onde anotava o nome de todos os que prejudicaram ela e meu pai. Por enquanto vou contar da peça de teatro que ela escreveu, produziu, dirigiu e atuou junto com suas amigas do clube da terceira idade (o primeiro do nordeste) que dona Creusa fundou aqui.

Tratava-se de uma adaptação do clássico “Chapeuzinho vermelho”, dirigida a maiores de idade. Na cabeça de minha mãe tudo podia. Portanto, a peça começava com a mãe de Chapeuzinho sozinha no palco, dizendo para a plateia que estava muito preocupada porque o fundo da panela onde cozinhava diariamente havia se desgastado e caído. “- Ah, meu Deus, onde conseguirei um frandileiro para consertar a panela?” E como se fosse a coisa mais natural do mundo, entrava em cena um frandileiro apregoando: “- Frandileiro, frandileiro, conserto panelas”. Ela então perguntava quanto custaria para consertar sua panela e ele dizia que seriam dez reais. “- Mas dez reais são muito caro…e se eu lhe der o fundo (referindo-se ao fundo da panela que caíra)?”. O frandileiro olhava pra plateia, esfregava as mãos, piscava um olho e dizia bem maliciosamente: “- Ah, se a senhora me der o fundo então é de graça”.

Para vocês terem uma ideia da esculhambação, na adaptação que Creusa Pires fez do “Chapeuzinho vermelho” o lobo mau era gay. Pior ainda, não queria nada com a vovozinha. Apaixonou-se pelo caçador e sempre que os dois se encontravam em cena o lobo olhava para a plateia, fazia uns trejeitos e repetia o bordão: “- Olha só o tamanho do cano da espingarda. Vai caçador, levanta esse cano enorme”.

Como todos sabem, a peça tem 5 personagens; Chapeuzinho, a avó, a mãe, o caçador e lobo. No entanto, depois da estreia da adaptação feita por dona Creusa, muitas amigas quiseram participar, e ela jamais disse um não a quem quer que fosse. Já na segunda apresentação eram mais de 30 pessoas no palco. Tinha de um tudo; gente fazendo papel de arvore, de pedra e até de lago (uma senhora deitada balançava um véu azul que a cobria). Não fui à terceira apresentação, mas soube que mais 14 senhoras tinham conseguido papeis criados por minha mãe, entre os quais dois sargentos Garcia, um Zorro e um grupo de índios. Como ela fez para caberem no enredo não sei, mas em seu coração sempre coube todo mundo.