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PORQUE O TREM PAROU EM BANANEIRAS(3) (Ramalho Leite)

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PORQUE O TREM PAROU EM BANANEIRAS(3)

RAMALHO LEITE
Homem do norte, Epitácio Pessoa conhecia o problema das secas e transformou a Inspetoria Federal de Obras Contra Secas ( IFOCS) na ferramenta permanente de criação de instrumentos que permitissem a convivência com a estiagem. A saída de Epitácio do Governo foi um desastre para a região que o viu nascer. Seu sucessor, Artur Bernardes, cuidou logo de extinguir a chamada “Caixa das Secas”, uma verba especial para obras de recursos hídricos. Para comandar aquele órgão, Epitácio chamara de volta o engenheiro Arrojado Lisboa e este deu grande contribuição às obras de  açudagem,  irrigação e outras correlatas. Nessa época foi delimitado a região que passaria a se chamar Nordeste. Entregue ao IFOCS, a ferrovia que dava acesso a Bananeiras e pretendia chegar a Picuí para ligar a Paraíba com a região seca do Rio Grande do Norte foi atingida pela falta de verba e parou em Bananeiras por volta de 1925.
A partir de 1949/50, no governo do marechal Eurico Gaspar Dutra, voltou-se a falar em ferrovias. O trecho Independência (Guarabira)/Picui, que tivera como terminal, até então, a estação de Bananeiras, foi entregue à construtora Nobrega & Machado, empresa natalense fundada em 1948. Entre os sócios, além dos irmãos Nóbrega (Milton, William e Waldemar) estava o engenheiro Vouban Bezerra de Faria que após 64 viria a ser nomeado prefeito de Natal. Dividido em dois contratos, uma segunda parte da construção foi entregue ao Exército, cujo Grupamento de Engenharia e Construções instalou-se em Bananeiras, na sede da prefeitura, gentilmente cedida pelo prefeito de então.
Essas novas obras já eram por conta da Rede Ferroviária do Nordeste que encampou a Great Western a partir de 1951, mas por pouco tempo, uma vez que em 1957 surgiria a Rede Ferroviária Federal vinculada ao Ministério da Viação e Obras Públicas. Lembro bem que não havia máquinas nesses serviços. Um aterro imenso construído na saída de Bananeiras foi todo ele erigido com a ajuda de jumentos que, pacientemente, subiam a desciam a montanha de terra, sob as ordens de engenheiros e tangedores que  visavam alcançar o nível necessário para a fixação da linha férrea. Uma rua de Bananeiras foi seccionada e ainda hoje, parte de seus moradores moram “do lado de lá do corte”. Um viaduto foi construído e, depois, tudo isso ficou abandonado na hora em que mandaram paralisar os serviços.
Mas foi com o mesmo presidente Dutra que começou a mudança de rumo da política de transportes no Brasil. A prática de incentivos fiscais  favoreceu a implantação de indústrias estrangeiras entre nós. O presidente Juscelino Kubitscheck e o seu plano de metas pretendiam alcançar trinta objetivos incluídos em cinco itens: energia, transporte, indústria, educação e alimentação. A meta de transportes anunciava a implantação de uma rede de estradas. Não houve qualquer referência a ferrovias. Por uma razão muito simples: o petróleo barato fez o governo optar pelo transporte rodoviário. A partir de então, não se falou mais em trens.
Petróleo barato, indústria estrangeira sob incentivos fiscais, início da fabricação de automóveis em solo brasileiro e a implantação de uma rede de rodovias, levaram as ferrovias ao esquecimento. Coube aos militares, desativar milhares de quilômetros de ferrovias. Por isso o trem parou em Bananeiras.