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PARAIBANOS PAIS DA REPÚBLICA ( RAMALHO LEITE )

Terminei de ler há pouco mais um livro do paranaense Laurentino Gomes- 1889. É o ultimo da trilogia que começou com o 1808 e continuou com 1822. Se todos os que cuidassem da história, narrassem os fatos da forma como ele o faz, todo mundo gostaria de ler livros de história. O singular da sua escrita é que ele conta os bastidores dos acontecimentos que a versão oficial não passou adiante. Até os detalhes sórdidos e o burlesco dos fatos e seus atores, são transmitidos aos que se debruçam sobre os livros. Foi assim com a transmudação da Família Real para o Brasil, a Independência e agora, a República que, para ele, foi fruto da existência de um imperador cansado (Pedro II), um marechal vaidoso (Deodoro da Fonseca) e um professor injustiçado (Benjamim Constant).
O Imperador deposto por um golpe de estado foi embarcado em uma madrugada para o exílio, mesmo tendo radicais, como o advogado paulista Silva Jardim, que pregavam o trucidamento da família real, a exemplo do que sofrera a Corte francesa de Luiz XVI onde a estrela fora Maria Antonieta. Deodoro teria aderido à Republica diante de um fato consumado: o manifesto publicado no jornal do abolicionista José do Patrocínio que, como o Marechal, era monarquista empedernido. Patrocínio, por ser negro, devotava amor infinito à Princesa Isabel, por motivos óbvios, sendo o responsável pelo titulo de A Redentora com que a filha de Dom Pedro entrou para a história.
Na movimentação militar que antecedeu o 15 de novembro, dois paraibanos se destacaram: um militar, o general Almeida Barreto e o jornalista Aristides Lobo, o primeiro nascido em João Pessoa e o segundo em Cruz do Espírito Santo. O jornalista viveu parte de sua vida em Alagoas onde, mais tarde, disputaria dois mandatos consecutivos de deputado geral, como eram chamados os parlamentares federais no Império. Expunha a defesa da mudança do regime no jornal A República, fundado por ele e outros companheiros de empreitada. Instalada a nova ordem, Aristides Lobo foi nomeado Ministro do Interior, cargo que ocupou por pouco mais de dois meses, rompendo com Deodoro.
A participação do paraibano Almeida Barreto foi mais polêmica. Conta Laurentino Gomes que o Visconde de Ouro Pedro, chefe do ultimo ministério monárquico, refugiara-se em um quartel e tinha a garantir sua integridade e da monarquia agonizante, justamente as tropas sob o comando do general Almeida Barreto. Sem que o governo soubesse, o general também estava comprometido com os golpistas, mas não tinha a absoluta confiança de Deodoro. Este, ao se deparar com as tropas diante do quartel, mandou intimar o general Barreto a mudar de posição. Como Pedro negou a Cristo três vezes, o general teria deixado de atender ao chamamento do proclamador da República. Na terceira convocação, irritado, Deodoro verbera:
– Menino, vá dizer ao Barreto que faça o que já por duas vezes lhe ordenei, ou então que meta sua espada no …,pois não preciso dele!
O conteúdo chulo da frase de Deodoro tem sido amenizado por outros historiadores que preferem se referir a “frase impulsiva e vigorosa” ou “uma exclamação violenta”. Para o coronel Ernesto Sena, citado por Laurentino, Deodoro mandou o general meter “ a espada… na bainha”. Seja como for, o recado surtiu efeito. O general Almeida Barreto saiu do muro, juntou-se a Deodoro e, mais tarde, ganhou um mandato de senador pela Paraíba. Esteve aqui em visita, recebido com muitas festas. E hoje é nome de rua. Em Juazeirinho uma escola tinha o seu nome. Foi destronado para homenagear o deputado Genival Matias, recentemente falecido.