CAMPINA GRANDE É uma cidade que sempre esteve sob o meu prisma de observação e análise, sob meu olhar. Talvez isso se deva a um amor incondicional por minha terrinha, por esse rincão que segundo uma visão idealizada de um concurso para a criação de seu hino oficial, isso na década de 1970, é um “recanto abençoado do Brasil” e ontem completou 160 anos de sua emancipação política. Como observador, me deixo levar pelas histórias que sempre ouvi sobre a cidade, pelas imagens que, ainda muito criança, se formava na retina ao acompanhar meus pais nos transportes coletivos, quer seja indo ao Parque do Açude Novo garatujar nos escorregos, ou em algum tipo de atividade ou passeio.
Diante disso, me considero privilegiado por conhecer desde a infância a Feira de Campina Grande, o Centro da cidade e outros recantos que tive a oportunidade de palmilhar, por vezes condicionado pelo transporte público que não se satisfazia em me levar para casa antes de dar voltas e mais voltas por toda a cidade – a janela do coletivo dirigia meu olhar. O terminal da Vila Castelo Branco, na zona leste, ah como era longe! E a cidade ia cada vez mais me seduzindo por seus mistérios, suas edificações, suas ruas, suas praças, suas cores.
Entre os anos de 1991 e 1992 começo a ter as lembranças mais fortes. Com aproximadamente sete anos de idade ia ajudar meu Pai a fazer compras para uma pequena mercearia familiar, localizada na frente de nossa casa, no bairro de Bodocongó. As compras no mercado central vinham recheadas de experiências únicas: comer pão doce ou pastel com refresco armazenado em potes de barro que de tão grandes tinham que ser mexidos (para a diluição do açúcar) com o próprio braço do comerciante; as cores e os cheiros da feira sempre muito intensos. Passar pelo centro e ver aquela imensa movimentação de pessoas, quando na inocência da tenra idade eu me questionava para onde iam todos aqueles caminhantes. Outro lugar que Papai gostava de passar era o Calçadão da Cardoso Vieira: trabalhadores, grupos de pessoas a conversar, músicos, malabaristas, pedintes, coração que pulsa no centro da urbe.
Até em momentos de doença a cidade não fugia de minha observação, as luzes coloridas e uma outra cidade que, deitado, eu via a partir do colo de Mamãe ou de Papai. Entre carinhos e afagos, os males eram diminuídos. Foi em um dia para fazer um exame de sangue que fui com meu Pai ao Hemocentro, lá no Catolé, e conheci a Rodoviária, aquela imensa edificação com vários ônibus diferentes dos habituais, lojas, lanchonetes, e uma visão panorâmica da cidade. Daquele mirante ouvi Papai dizer: “Quando cheguei da Marinha em 1982, Campina só tinha aqueles três prédios ali…” me deslumbrei com a imagem. Caminhar até a escola (no Conjunto Severino Cabral), passar pela feirinha de Bodocongó e ver as novidades (simples brinquedos e papelaria) em um armarinho; jogadores correndo no campinho, suando a camisa, e a bola de couro (dura que só ela), só pensava em poder chutá-la. E eu sempre experimentando uma coisa diferente que a cidade me ofertava.
Para evitar fazer como o Juca – que queria “um muro no meio do caminho” , para romper a monotonia de uma rua “tão igualzinha todos os dias” – o mínimo de rompimento do cotidiano me fascinava, assim como o Marcovaldo, personagem do escritor Ítalo Calvino, sempre atento a qualquer mudança ao seu redor, de uma folha que amarelou em um ramo ou um buraco de cupim na mesa. Assim me acostumei a perceber até as mudanças da estação.
E este olhar para a cidade sempre me acompanhou e o fascínio eivou-me ainda mais de sentimentos ufanos, até que quando cursei a 8ª série comentava com meu Professor de História Rildo que tinha o sonho de escrever um livro sobre a história de Campina Grande. Dois anos após, em 2000, já no científico, na semana do aniversário da cidade, tive a ideia de fazer uma exposição na escola com fotografias sobre marcos históricos da cidade, no que fui incentivado pelo meu Professor Josué e pelo meu pai que abraçou a ideia comprando um filme de 36 poses, no que, convenhamos, fugia ao orçamento familiar, mas ele sempre abraçou meus projetos, sempre! E fomos a vários lugares, da Estação Velha a um misterioso castelo no bairro dos Cuités para fotografar.
Os anos se passaram e o espírito flâneur me acompanhou com ainda mais agudeza, conduzindo meu olhar e inspirando alguns escritos que hoje tenho o maior orgulho em compartilhar com os leitores e leitoras deste prestigioso jornal que é patrimônio histórico de nossa Parahyba. Parabéns minha Campina Grande!
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