Basílica de Nosso Senhor do Bonfim, Colina sagrada, Salvador-BA
São Salvador, Bahia de São Salvador
A terra do Nosso Senhor
Do Nosso Senhor do Bonfim
Oh Bahia, Bahia cidade de São Salvador
Bahia oh, Bahia, Bahia cidade de São Salvador.
(Dorival Caymmi)
VOLTEI SALVADOR, queria saber como você estava no pós pandemia. Voltei e devo esse retorno a oferta desse voo diário que une você ao aeroporto Presidente João Suassuna em Campina Grande em uma hora e dez minutos. Sobre João Suassuna, restou o painel em mosaico com o soneto ‘Fazenda Acahuan (lembranças de meu pai)’, de seu filho Ariano Suassuna, mas aquele letreiro imponente lá fora foi substituído pelo nome da empresa que passou a administrar vários aeroportos no nordeste. Não duvido nada se retirarem o ‘Campina Grande’ e pôr apenas a sigla aérea CPV. Afinal, o respeito a história é coisa que nem sempre se vê. Mataram João de novo!
Voltei Salvador, voltei acompanhado de parte da família. Eram treze pessoas, dentre elas meus pais. Glórias por termos viajado juntos, pois sei o quanto é difícil fazermos uma viagem para além das fronteiras do estado juntos. O momento foi simbólico, chegamos às primeiras horas da sexta-feira que além de ser da paixão de Cristo é aniversário de 475 anos da capital. Semana de reflexão, de promessas, de (re)ligar com o sagrado e tu, Salvador, parece ser o lugar perfeito com suas centenas de templos. Dorival Caymmi musicou o que se tem como folclore, ou seja, 365 templos católicos, uma igreja ou capela para cada dia do ano. Conversando com o amigo jornalista soteropolitano Gorgônio Loureiro, ele afirmou que a quantidade pode ser o dobro. Já a querida jornalista Berna Farias, nascida em Campina Grande e radicada em Salvador há décadas, me apresentou um material (assinado por Daniel Aloisio do g1 BA) em que consta que são quase duas igrejas por ano, ou seja, 589 templos católicos. Já no que se refere a terreiros, são cerca de dois mil, cinco por dia para cada ano.
Teto da sala dos ex-votos
É bem verdade que muitas das igrejas estavam fechadas, com os santos imersos no velatio, costume secular da igreja católica em que eles são cobertos com mantos roxos, lembrando a penitência e o sofrimento de Cristo. Um templo, o mais festejado, estava de braços abertos para receber os visitantes e fiéis que pagavam promessas de joelhos, amarravam fitilhos coloridos no gradil ao redor do templo e rezavam. Qual poderia ser?
Para se ter acesso, é preciso transpor parte da cidade baixa com seu irrequieto comércio. Com destaque para a grandiosa feira de São Joaquim que se esparrama pelas ruas, particularmente movimentada pela busca do pescado para o consumo até o domingo de Páscoa. Logo à frente avistamos – mirando os céus – o par de imponentes torres da Basílica Nosso Senhor do Bomfim. Subimos as escadarias em muda contemplação, observando cada detalhe, desde o chiado das fitas ao ar de 34°C, ao frontispício, a azulejaria amarela no alto das torres, a grandiosidade de suas fortificadas paredes. Seu Edval, um guia turístico muito dedicado, nos indicou que entrássemos pela última porta da esquerda que nos dá acesso direto a sala dos ex-votos, espaço de agradecimento e reafirmação da fé. Ali se tem bem próxima a noção da devoção popular mais importante da Bahia. Não há como não se encantar com a nave, os corredores e o apego ao belo que tinham os antigos. Detalhes majestosos. Muitos deles, é bem verdade, forjado em mãos escravizadas.
Duas voltas, três nós, três pedidos. Fitinha de Nosso Senhor do Bonfim
Sentei-me em um de seus bancos, rezei, fiz minha oração. A emoção me prostrou de joelhos. Minutos após vi muitos a rezar. Promessa feita, pedido em mente. Um dia eu volto pela mesma porta para deixar meu ex-voto e louvar o Nosso Senhor do Bomfim. Viva Bahia de todos os Santos, viva São Salvador.
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