Por GILBERTO CARNEIRO
POR MUITO TEMPO, vi o Tênis como um esporte elitista, embora achasse bacana os sons produzidos pelas acrobacias dos tenistas refletidas nos seus tênis. É onde o tenista parece um dançarino, mágico na concepção do golpe, calculista no efeito do spin. No entanto, o preconceito impedia minha aproximação. Era como flertar com uma garota que você se sentia correspondido, mas achava que o seu estilo não correspondia ao seu, até o dia que você toma a iniciativa, resolve conversar com a moça e descobre que ela tem tudo a ver com a sua personalidade.
Foi assim comigo em relação ao Tênis. Quando quebrei as barreiras e resolvi conhecê-lo através de uma aula experimental patrocinada pelo meu amigo e professor Hélio, “Corona” para alguns, a paixão por esse esporte foi imediata.
É a modalidade que carrega o espírito estratégico de um jogo de xadrez, o preparo físico de uma corrida de 100 metros, o equilíbrio de um ginasta e a força braçal de um atleta da canoagem. Mas espera um pouco, não possuo nenhum desses requisitos, como então me adaptei? Refiro-me ao esporte terapia usado como válvula de escape do estresse cotidiano e como fenômeno de sociabilização e de transmissão de valores, afinal estudos comprovam que a prática de exercícios físicos é benéfica não só para o corpo, mas também para a saúde mental, reduzindo a ansiedade e melhorando a memória e a capacidade de raciocínio. Caso consiga conciliar a necessidade da prática do exercício com um esporte que realmente lhe proporcione prazer, então é perfeito.
O tênis me proporciona isso. Todavia, essa visão do esporte terapia não significa ausência de competitividade. Competir de forma razoável e equilibrada oferece diversos benefícios, como o desenvolvimento pessoal, a busca por melhoria contínua e o aprimoramento de habilidades. Conhecem a Arte da Guerra, de Sun-Tzu? É um livro muito usado para lidar com o cotidiano do mundo, seja no campo dos negócios ou da vida pessoal. O tênis é uma modalidade de arte da guerra. É o único esporte que você observa em tempo real uma batalha de mentes e corpos, ao mesmo tempo, em que é evidenciado o exato momento em que o cérebro tenta encontrar soluções palpáveis para você mudar o jogo, sair da zona de conforto e evitar a derrota.
Seu oponente acertou os dois últimos contraataques de forehand no seu contrapé. É o último ponto do game, você devolve o saque, mas continua correndo para se defender do outro lado ou espera a bola na posição que você suspeita que ele irá lançar para atacá-la? É tudo uma questão de intercepção e previsão de jogada.
O mesmo raciocínio é válido quando é você no ataque: “-precisa jogar na posição que seu adversário está mais desconfortável. Ele não está confiante no backhand? Troque bolas na esquerda. Tire ele da quadra com o saque aberto e finalize em seguida. Nunca, isso mesmo, nunca deixe de bater na bola ou sinta pena de quem está do outro lado. Seu adversário apenas está esperando uma chance para retomar confiança e lhe trucidar” – grita o professor, exasperado na quadra.
Faz pouco tempo que estou envolvido com o Tênis, contudo a minha visão atual em relação a essa modalidade de esporte está totalmente desprovida de preconceitos. O mundo é assim, como o Tênis. Pessoas são assim. Vivem sob os efeitos de regras o tempo todo. Sobrevive quem erra menos e possui mais momentum. Por isso defendo que as administrações públicas implantem projetos esportivos nas escolas públicas com o Tênis como ferramenta de inclusão social e construam em suas praças quadras de Tênis como forma de difundir o esporte, contratando professores para auxiliar os alunos, possibilitando, quem sabe, surgir nas quadras de tênis públicas, a partir das comunidades, um Gustavo Kuerten, uma Maria Esther Bueno, um Luiz Mattar ou um João Fonseca.
No meu caso teve um outro aspecto positivo provocado pela descoberta do amor ao tênis: a integração familiar e social. Minhas duas filhas e esposa aderiram ao esporte, com as duplas de dois, criando um clima de integração muito positivo no meu seio familiar. E fiz novos amigos. No condomínio, onde pratico, o tênis é o esporte de maior integração entre os condôminos. O síndico está entre os melhores jogadores. Nas sextas feiras geralmente tem o happy hour ao estilo Campelo´s Bar. “Corona” vem do grupo criado e, sugestivamente, é o nome de uma cerveja. Pratico Tênis rotineiramente três vezes na semana. É certo que até o presente ainda não consegui vencer meu outro amigo “Corona”, o Max, que conheci através do tênis, mesmo com todas as dicas do professor Hélio. Porém, tudo no seu tempo, não é Max?.