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O país dos gordos ( Marcos Pires )

O país dos gordos

 

Marcos Pires

     Já fui gordo. Cheguei a pesar 130 quilos. Do que eu aprendi posso afirmar sem medo de errar que se inventarem uma maneira dos gordos passarem pela experiencia de serem magros por um único dia, nenhum deles deixará de se submeter ao regime mais severo possível para emagrecer. Trato desse assunto porque além de entender adoro me meter na vida alheia desde que seja para ajudar. Se quiserem saber como é fantástica a vida do cidadão depois que se submete a uma cirurgia de catarata, após se viciar em caminhadas matinais, mesmo quando não pode passar dois dias sem ir a uma academia, sou o cara certo para conversar. Porém hoje estou tratando do país dos gordos, onde habitei por muito tempo. Parece piada, mas a vida dos gordos é tão difícil que até quando estão num avião e precisam ir ao banheiro encontram dificuldades porque todos os passageiros saberão o que o gordo foi fazer; se entra de frente no mictório é porque fará o número 1; se entra de costas fará o número 2 com certeza, já que não há margem de manobra dentro daquela cabine mínima.

     O que me obrigou a emagrecer foram umas hernias de disco que me puseram dois meses sem poder me locomover. A dor era tanta que fui forçado a fazer um regime incrível. Adquiri uma balança digital que coloquei próxima à geladeira. Eu me pesava ao menos 5 vezes por dia e anotava hora e peso. Pode parecer bobagem, porém serviu enormemente para me incentivar. No começo eu perdia quilos, depois eram muitas gramas e enfim estabilizei com 30 quilos a menos. Do que sobrou do meu corpo troquei a gordura por massa magra.

     Mas o processo foi terrível.

   No primeiro mês comia uma gororoba que vinha nuns pratos congelados cujo sabor (segundo os rótulos) variava de carne de sol a estrogonofe, passando por peixes e aves. Tudo mentira, os pratos tinham o mesmo gosto de papelão molhado. Depois fiz a tal reeducação alimentar e abandonei tudo que mais gostava. Hoje em dia só como o que é bom para minha saúde, porém sete anos depois ainda sinto o gosto do guaraná antártica quando vejo alguém degustando aquele néctar.

   Guardei algumas peças de roupa dos antigamentes e vez por outra uso uma das camisetas. Me dá um prazer enorme saber que valeu a pena. Não pretendo voltar jamais a residir naquele país dos gordos e espero que este escrito incentive algum leitor a migrar para cá; será muito bem-vindo.