Numa cidade parecidíssima com João Pessoa, onde tudo era tão igual que ali também habitavam os falsos ricos, foi noticiada a realização de uma festa espetacular. Aquele evento despertou um frisson jamais visto em toda a cidade. Até o cerimonial era tão sofisticado que foi contratado no sul do país.
Um grupo de amigos decidiu fazer uma brincadeira, um tipo de teste, para medir até onde os falsos ricos iriam na ânsia de serem convidados. Escolheram um cidadão que atendia aos pré-requisitos estabelecidos para o que pretendiam; era da classe mais ou menos média, alternava mensalmente o pagamento das prestações do veículo com as prestações do apartamento; num mês pagava a prestação do carro, no outro pagava a prestação do imóvel. Pensava que ninguém sabia…ora, ora, naquela cidade, tal qual em nossa capital, tudo se sabia. Adorava sua foto nas colunas sociais, colecionando os recortes. Não sabia que só publicavam quando faltava assunto. À sorrelfa chamavam-no de Marquês de Cagalhufas. Mas ele seguia altaneiro, indiferente aos sacrifícios que impunha à família na ilusória felicidade.
Os tais amigos fizeram com que a secretária de um deles, que tinha um belíssimo sotaque gaúcho, ligasse para o Marquês e, identificando-se como cerimonialista da festa, anunciou que seu convite chegaria por portador especial, aviso necessário para providenciais básicas, como a compra do vestido da madama, reserva de cabelereiro e maquiador e muito mais. O já sacrificado personagem endividou-se até não mais poder; para a esposa um vestido vindo de São Paulo. Para ele uns sapatos de verniz, terno Ricardo Almeida e até as meias comprou-as de seda.
À medida que se aproximava o dia da festa aumentava a angustia do fulano ante a ausência do convite, mesmo periodicamente recebendo telefonemas da “cerimonialista” dando conta da chegada iminente da invitation. Dois dias antes da data ela ligou-lhe dizendo que o seu convite não conseguira ser entregue porque o endereço não conferia. E em seguida leu o endereço que era exatamente o dele, mas em uma cidade diferente, o que lhe causou um mini enfarte. Que não se preocupasse, o erro era do cerimonial e eles garantiam que no máximo na tarde do dia da festa o convite seria entregue. E chegou o dia da festa. A esposa já estava penteada e maquiada, o vestido estendido na cama, enquanto ele tomava o primeiro dos muitos uísques da espera, porque o convite não chegou. Obvio, era inexistente.
Porém os amigos sublimaram a trama; logo cedo da manhã seguinte deixaram na sua caixa de correio um convite não utilizado por um deles, que viajara.
Até hoje o Marquês de Cagalhufas tem certeza que foi convidado e amaldiçoa o cerimonial sempre que pode, para constrangimento dos que ouvem seus lamentos e sabem da verdade.
Essa história é verdadeira e me lembra a “Bola de sebo” do colega escritor Maupassant.