O BARÃO DE ARARUNA EXISTIU (2)
Ramalho Leite
Ainda era vivo o Barão de Araruna quando foi realizado o primeiro censo demográfico no país. Em Bananeiras foi constituída uma comissão composta pelo Capitão Antonio da Cruz Marques, Major Felinto Florentino da Rocha, Antonio Bezerra Carneiro da Cunha, Tenente Antonio Candido Taumaturgo de Farias e Cassiano Cícero Carneiro da Cunha. Fiz questão de nomear a comissão pois identifica sobrenomes de várias famílias ainda residentes no município e, alguns desses nomes, batizam ruas da cidade.O resultado da pesquisa censitária só foi apresentado em 1875 e apontou que Bananeiras na ocasião contava com 11.581 habitantes, sendo do sexo masculino 1.548 brancos, 810 pretos, 2.656 pardos, 234 caboclos e 224 escravos. O belo sexo estava representado por 1.723 brancas, 732 pretas, 3.560 pardas, 308 caboclas e 201 escravas. Maurílio Almeida, que revelou esses números, destaca que o percentual de apenas 3,6% (por cento) de escravos em Bananeiras, era bem inferior ao encontrado em outros municípios como Mamanguape, Pilar e Alagoa Nova, em cujo território, o número de escravos estava entre 5 e 11 por cento.
Era esse o cenário onde seria desenvolvida a civilização do café. Há controvérsias quanto ao introdutor da rubiácea no município. Os mais respeitados pesquisadores apontam o gaucho Tomé Barbosa da Silva como o plantador das primeiras mudas de café, no lugar Bacupari. Outros apontam o português João Lopes Porto como o responsável pela aludida plantação. A produção de café, todavia, seria destinada ao consumo interno. A exportação, a partir de 1915 foi minguando de 20 mil arroubas até chegar em 1925 com apenas 7 mil arroubas. Nesse ano chegou o trem, e não existia mais café para se levar à Cabedelo.
O Barão era proprietário em Bananeiras e Araruna. A propriedade Capivara, em Cacimba de Dentro, era refúgio dele e do seu gado nos invernos prolongados do brejo. Consultado sobre o nome que desejaria ostentar na honraria, preferiu Barão de Araruna. Ele residia em Bananeiras, “mas se atraísse à insígnia o nome do município amado, não se livraria da mesquinhez dos detratores habituados às galhofas da maledicência”, explica Maurílio Almeida. Não queria ser chamado de Barão das Bananas…
Seu herdeiro principal, Felinto Florentino da Rocha, foi depois Comendador da Ordem das Rosas, por ato da Princesa Imperial, d. Isabel, em nome do Imperador Pedro II. Felinto assumiu a posição política do Barão e multiplicou seus bens. Ao falecer, seu inventário contou 46 propriedades em Bananeiras, 2 em Serraria, 4 em Guarabira, 10 em Araruna, 1 em Campina Grande, 1 em Picuí e 6 no Rio Grande do Norte. Os que seguiram de perto o exemplo desse varão compraram as “sortes” dos demais herdeiros e chegaram aos dias de hoje com parte do patrimônio que vem do Barão de Araruna. O Engenho Jardim, de fogo morto como tantos outros na região foi propriedade de Antonio Alves da Rocha, filho do Comendador e neto do Barão. Sua casa grande, onde residiram o Barão e a Baronesa, pertence hoje aos herdeiros do major Jurandir Rocha, um dos filhos de Antonio Rocha.
O Barão de Araruna e o seu filho Comendador Felinto foram próceres do Partido Conservador. Ligados ao conselheiro João Alfredo, que tinha atividades em Goiana, PE, foi através dele que os serviços de ambos ao Império, na Parahyba do Norte, chegaram ao conhecimento da Princesa Isabel. Nesse tempo, era o Barão do Rio Branco o presidente do Conselho de Ministros e por ele passava a aprovação dessas honrarias. Felinto soube ser agradecido. Uma rua em Bananeiras tem a denominação de Barão do Rio Branco.O próprio Felinto media a sua força: “aqui eu quero, posso e mando!”
O túmulo do Comendador Felinto, construído com mármore de Carrara, fica à esquerda de quem entra, próximo à capela, no campo santo de Bananeiras. Os restos mortais do Barão de Araruna devem ter se perdido quando da construção da Igreja Matriz e extinção do cemitério ali existente. Mas não duvidem, o Barão de Araruna existiu!