Josias Cavalcanti Sena chegou rapidamente a terceiro sargento da Força Pública de São Paulo. Nas horas vagas furtava automóveis juntamente com o irmão. Descoberto, foi encaminhado ao presidio Romão Gomes, onde permaneceu mesmo depois de desligado do corpo policial, algo estranho porque se tratava de um presidio que abrigava somente policiais. Talvez porque sempre foi envolvente, muito inteligente e frequentando a biblioteca do presidio dedicara-se ao estudo do Direito, prestava esclarecimentos e serviços aos demais detentos e aos funcionários do Romão Gomes. Seu prestigio junto à direção do presidio fazia com que permitissem suas saídas em busca de livrarias para a compra de livros de Direito. Numa dessas saídas não voltou.
Josias reapareceu no então recém-criado Estado do Acre, onde realizavam-se concursos para preenchimento de várias carreiras de Estado, entre elas muitas vagas para Juízes e Promotores. Munido de um diploma falso de bacharel em Direito foi aprovado no concurso sem a menor preocupação com o passado de crimes e condenações porque naquela época era quase impossível a comunicação destes fatos entre São Paulo e o Acre. Surgiu um novo homem. Apesar do calor escaldante da cidade usava a toga o tempo todo, dizendo sempre, em voz grave e contida, que “a ritualística tem que ser respeitada”. Destacou-se como Magistrado despertando admiração de todos; Promotores, Advogados, serventuários e colegas Juízes.
Com o passar do tempo ele começou a se encher da rotina; prazos para despachos, decisões interlocutórias, sentenças, oitivas de testemunhas e partes. Ele sempre fora um homem de ação, dublê de policial e ladrão. Decidiu seguir caminho e abandonou a toga.
Mudou-se para Santa Catarina e ali foi aprovado em concurso público. Agora Josias era Delegado de polícia. Sua excelente classificação permitiu escolher a cidade onde seria lotado; optou por Tubarão, próxima à capital e com baixíssimo índice de criminalidade. Habilidoso e inteligente, logo passou a ser acolhido na sociedade local. Destacou-se tanto no combate ao crime que os políticos da cidade queriam sua candidatura a Prefeito. Na surdina “esquentava” na Delegacia veículos roubados em São Paulo. Seu prestigio cresceu muito no Estado, a ponto do Secretário de Segurança de Santa Catarina manda-lo representar a corporação numa solenidade em São Paulo, onde fora condenado e com mandado de prisão em aberto. Mesmo assim ele foi.
Estava bem, hem? Só que uma vez bandido sempre bandido. Na próxima semana contarei a vocês o desfecho desta história.