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Blog do Vavá da Luz

NOS LIMITES DA LIBERDADE ( MARCOS SOUTO MAIOR (*)

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                Depois de estonteante viagem aérea, cansativas dezesseis horas ininterruptas, começando em minha cidade de João Pessoa, passando por São Paulo e, depois, Bogotá, finalmente, chegamos à Cartagena, chamada de jóia do Caribe sul-americano. De malas nas mãos, eu e minha mulher, Fabíola, fomos vendo pelas janelas do automóvel o colorido dos edifícios, das casas e dos monumentos da vibrante noitada do povo que sabe brincar de viver. Fomos chegando ao hotel cinco estrelas, de estilo colonial, semelhante ao de Manaus, e minha primeira homenagem foi o confortável colchão onde mergulhei para o sono cansado que me pegara de jeito, obrigando-me a deitar de um lado quando outro já estava roncando, em meio a uma noite estranha seguida de pesadelos assustadores…

                Pela manhã, aproveitei para estirar as pernas visando me preparar para o city tour em torno de Cartagena e, assim, saí para dar umas voltas pela verdadeira minifloresta natural de muitas árvores frondosas no âmbito do acolhedor hotel. Sentei-me numa mesinha com café, leite e sucos, além de frutas tropicais, queijos, bolos e outros pratos. Olhando pelos lados, tive a surpresa da imensa piscina de diversas profundidades, tanto para crianças, quanto para adultos, o que me apressou a trocar meus óculos de lente escura para os de grau, descortinando um animado bando de pássaros pequenos e negros, carinhosamente chamados pelo povo colombiano de Maria Mulata, estes com direito até à visível estátua montada em placas de ferro, com destaque na praça livre da cidade. Em verdade são bem parecidos com os corvos de outras plagas. Puxei imperdível gole cheiroso e esfumaçante do café concorrente ao nosso brasileiro e, me assombrei com o vôo rasante dos meus passarinhos amigos terminando por pousarem, silenciosamente, bem perto de onde eu estava. Num minutinho em que me levantei para pegar mais mantimentos, eis que vi de longe vários pássaros se banqueteando, apressadamente, na minha mesinha. Foi a primeira festa natural em Cartagena e, sendo devoto de São Francisco, protetor dos animais, outros dois amiguinhos, os interessantes tucanos nativos, se chegaram a mim e, sem perder tempo, vagarosamente fui lhes dando alimentos, até conseguir entregar-lhes em seus grandes bicos!

                Senti, sim, a liberdade completa das benditas aves, tanto quanto os negros após a abolição da escravatura no mundo todo. Contudo, outras raças humanas insistem no amedrontamento, na disputa para invadir terras conquistadas antigamente. Chegam ao cúmulo de se digladiarem numa carnificina interminável com utilização de suas poderosas máquinas mortíferas aéreas, ou fixadas à longa distância, pagando com as vidas inocentes. Das muitas batalhas infindáveis, Palestina, Israel, Síria, Iraque, Ucrânia e outras nações dependem, tão somente, de que um dedo indicador comande, friamente, destruições em massa repetidas há anos.

                Até quando, as forças internacionais da, hodiernamente, desfigurada ONU não passarão mais do que parecer um inocente beliscão fino dos Maria Mulatas e dos tucanos sem nomes?!

(*) Advogado e desembargador aposentado