Pular para o conteúdo

Noite Gilbertiana (Thomas Bruno Oliveira)

Sales Gaudêncio (APL), Thélio Farias (ALCG), Mário Hélio e Elizabeth Marinheiro – José Edmilson

ANTE AOS UMBRAIS do clássico prédio-sede da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba, erigido em um aterro nas águas do velho Açude de Campina Grande que chegava até a antiga Lagoa dos Canários, tentava recordar a última vez que fui àquele auditório. Certamente um evento literário, mas não da nossa academia de letras e sim um encontro do Pen Clube que a confreira Elizabeth Marinheiro organiza com tanto esmero e é ela quem primeiro vejo compondo a mesa de honra da ‘Noite Gilbertiana’, evento organizado pela associação da Academia de Letras de Campina Grande e da Academia Paraibana de Letras, com conferência do escritor paraibano de Sapé e radicado em Recife-PE Mário Hélio Gomes, membro da Academia Pernambucana de Letras e atual diretor da CEPE – Companhia Editora de Pernambuco.

 
Mário Hélio, um de seus dois livros e eu – TB

Com apresentação da acadêmica Elizabeth Marinheiro – certamente uma estrela dessa noite ­– ressaltando o reencontro com Mário Hélio após 30 anos, o escritor discorreu sobre “A Paraíba de Gilberto Freyre”, demonstrando os fortes vínculos do gênio de Apipucos com a Parahyba, desde o matrimônio com a paraibana Magdalena Guedes Pereira Freyre, até suas vindas à Parahyba e, especialmente, à Rainha da Borborema. “Vou ressaltando os congressos literários promovidos por Elizabeth Marinheiro, muitos dos quais frequentados por Gilberto Freyre”. Mario Hélio termina sua conferência citando um artigo de Gilberto Freyre enaltecendo a cidade, trata-se do ‘A propósito de Campina Grande’, publicado no Diário de Pernambuco (27/ago/1978) em que afirma: “Uma sugestão terapêutica ao brasileiro que se sinta desalentado quanto ao futuro do nordeste: vá a Campina Grande”.

 

Thélio Farias (ALCG) e Sales Gaudêncio (APL) tiveram a ideia de organizar o evento no sentido de unir ambas as Academias e intensificar o relacionamento entre os escritores vinculados às instituições, e não poderia ser em uma data mais especial, momento em que lembra os 37 anos da partida do recifense Gilberto Freyre, justamente no dia 18 de julho de 1987 e coincidentemente aniversário de sua esposa Magdalena. Na mesma noite, além do lançamento de dois livros do Prof. Hélio sobre Freyre, foram outorgados os títulos de sócio correspondente da APL e da ALCG para ele, e de sócio correspondente da ALCG para os escritores Hildeberto Barbosa Filho, Flávio Tavares de Melo e Francisco Pereira Filho (Chico Pereira). Oito membros da ALCG estavam presentes: Elizabeth Marinheiro, José Edmilson, José Mário, Mirtes Sulpino, Valéria Xavier, Tarcísio Bruno, o Presidente Thélio e o presente escrevinhador.

 
Em Manoel da Carne de Sol – TB

No saguão, um bom bate-papo acompanhado por um lanche regional e um bom café. Ali adquiri os livros de Mário, vi uma exposição de alguns números da Revista Continente além de conhecer o livro de poesia recém lançado do confrade Tarcísio Bruno e fiquei surpreso e ao mesmo tempo reflexivo em saber que todas as ilustrações da obra (inclusive a capa) foram produzidas através da ultramoderna inteligência artificial, arte de um amigo em comum, o ilustrador e editor Galdino Otten.

No fim dessa noite fria, banhada por um intenso sereno, houve um agradável e inesperado encontro no restaurante Manoel da Carne de Sol entre alguns participantes do evento. Adentrar àquele ambiente aconchegante, com detalhes amadeirados e luzes mornas, me fez lembrar uma tarde chuvosa em que, na companhia do meu tio historiador Nando, subi a colina de Apipucos para conhecer a Fundação Gilberto Freyre em seus mais tradicionais detalhes.

Em Manoel da Carne de Sol, muitos assuntos foram discutidos. O poeta Astier Basílio dava conta de suprir a curiosidade dos amigos sobre detalhes da Rússia, onde mora. Chico Pereira, Thélio Farias e José Edmilson compartilharam alguns detalhes da amizade com o saudoso acadêmico Amaury Vasconcelos, Mário Hélio falava sobre Gilberto Freyre, sobre Recife; Sales Gaudêncio, Ricardo Souto, Dhélio Ramos, Vladimir Neiwa e o médico Eduardo Cunha Lima sobre o ramo editorial e livros; esses foram alguns dos muitos assuntos conversados naquele encontro para o deleite de todos em um congraçamento muito honesto e espontâneo, regado a boas doses de whisk e petiscos de uma macia e saborosa carne de sol acompanhada de uma farofa que só Manoel oferta.

Desci para o meu vale do Bodocongó com o amigo Chico Pereira, curtindo o frio sob o véu de uma fina chuva e observando a cidade adormecer, lembrando cada detalhe da noite que foi bem especial.