Nesses tempos de festas natalinas, me aperreava muito, com o final do ano letivo, onde minhas notas não eram suficientes para passar para o ano seguinte, por causa da matemática, inglês e ciências, apesar dos meus pais, com muito sacrifício, contratarem professores particulares para melhorar as notas do final de ano. Naqueles tempos idos dos anos sessenta, a maioria das famílias compravam novos discos de vinil nas lojas do centro da cidade, onde orquestras e cantores envolvidos nas faixas das músicas de final de ano, aí meu pai, Hilton, acordava cedinho de cada dia do mês de dezembro, para a radiola de válvulas ABC Voz de Ouro (63), com agulha de diamante para pick-up, mostrar aos familiares e também os vizinhos, que estávamos no tempo do Natal. Enquanto a grande maioria dos meninos apostavam os presentes que iriam ganhar, nunca consegui conectar as músicas que ainda sopram nos ouvidos de todos, como o famoso e internacional ‘Jingle Bells’, concorrendo com o eterno ‘Bate o Sino’, que ainda me faz lembrar: ‘Bate o sino pequenino, sino de Belém. Já nasceu Deus Menino para o nosso bem. Paz na Terra pede o sino alegrar e cantar. Abençoe Deus menino este nosso lar”.
Entretanto, algo me chamava atenção, quando era final de ano, e as mães se encontravam na feira semanal ou, mesmo nas dependências dos colégios, tornando o assunto principal ser sempre, as notas baixas dos filhos! Era inevitável sair de casa para os locais onde os desobedientes teriam de recorrer às aulas complementares, com professores bem escolhidos e de currículos conhecidos e a ponto de salvar os preguiçosos de estudar. Em represália, e quando o tempo era ouro, ficava proibido quase tudo, indo desde passeios nas belas praias e praças onde a juventude conversava de mãos dadas, principalmente à tardinha… contudo, o aconchego com a namoradinha nos cinemas, com sacos de pipoca salgada, não chegou naqueles tempos de poucos estudos, para decepção dos namorados, também os pais que fazem tudo para educar seus filhotes.
Ademais, o atendimento dos alunos reprovados, em seus respectivos locais apropriados e distantes, era atendimento especial escolar dos poucos alunos, os quais fizeram verdadeiros jejuns, fora de hora para suportar a alta despesa complementar escolar. Claro que, depois de tudo isso, a turminha da brincadeira sentava nas carteiras, e destaque para um quadro negro que tomava de ponta a ponta da sala de aula, e o giz era de cores diferentes para melhor especificação e entendimento de todos. Os exames complementares não demoraram a chegaram logo, se parecendo com o famoso Dia D de certa guerra antiga, notadamente tremendo e balançando de medo aos que iam chegando, ansiosos acima do nível normal. Apenas uma simples caneta para escrever, uma borracha e a folha de papel pautada onde mostrava o nome do aluno, sua série e número, apensados para conhecimento dos professores. Passei de ano, mas a marca ficou para sempre!
Não me lembro se meus pais me desculparam da minha estupidez. Chorei e senti, as lições novas da vida ficaram na minha mente aberta ao destino, até os dias de hoje. Senti, não consegui voltar a não gostar das músicas natalinas, me enquadrando perante Khalil Gibran que disse: “Aprendi o silêncio com o faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; e por estranho que pareça, sou grato a estes professores.” Se é que venci na escola, sem nenhum mérito de poder consertar bom tempo de vida, para quem já se foram aos braços do nosso bom Deus!
(*) Advogado militante e desembargador aposentado