Nascemos, iniciando aniversários
Não sei como eram os dias do ano em que nasci, ou o que teriam feito um homem ou uma mulher, nos seus quotidianos. Deveriam ser diferentes da gente de hoje. Poucos, daqueles dias, ou quase nenhum exista mais, para contar o que faziam, naqueles momentos das suas vidas. Certamente, dormiam cedo, depois de avisados da parada do motor de energia elétrica, que lhes determinava o candeeiro a querosene, com luminosidade de meio-sono. E acordavam cedo, antes das seis da manhã, às vezes, com o dia meio escuro, ainda com as amenas cores da noite. Essas são indagações, quando as atenções se voltam ao nosso nascimento.
Os costumes antigos se modificam também à medida que as distâncias diminuem. Quando era criança, também para os meus pais, as cidades eram bem mais distantes. Ninguém diria “domingo, irei à China”. Primeiramente, porque economicamente não se podia; depois, somente a viagem seria um longo tempo de ausência, no lugar de onde se partiria. Antes, não, mas hoje, até por lá, já usam aerobus urbanos para substituírem transportes primitivos ou mesmo os mais recentes confortáveis omnibus. Nesses aspectos, a tecnologia, que corre com muita rapidez, transforma nossos comportamentos e consequentemente muitos dos costumes, sobretudo ao nos aproximar do mundo distante.
Verifica-se que acontece rapidez em tudo. Não faz muito tempo que Santos Dumont, em Paris (23 de outubro de 1906), alçou voo no frágil XIV Bis. Após apenas 63 anos (1969), o homem pisa na Lua, como início de preparação à ida a Marte, onde a China pesquisa e já explora condições nesse sentido. Na minha infância, falava-se da existência de marcianos, de extraterrestres, com discos voadores ultravelozes que, de repente, aproximam distâncias, como a velocidade da luz, capazes de, em poucos átimos, virem a Pilar ou a Pequim, logo depois do pôr do sol. Já no Japão, caminham coisas de plástico ou de ferro, como se fossem gente, com bandejas na mão, servindo, em bares e restaurantes, saquê e sashimi, a pessoas trazidas em carros elétricos sem motorista…
Por que interrogar sobre o que faziam, no ano em que nasci, em comparações com os dias de hoje? São reflexões que nos chegam, espontaneamente, com a proximidade do aniversário dos que nasceram no período zodiacal taurino, depois dos meados de abril. Aniversário, além disso, serve também a algumas ilusões como as suas próprias repetidas comemorações, algum presente, e o convencional bolo açucarado, perfurado por velas. Addirittura, celebriamo con un bicchiere di vino! Porque talvez nascemos iniciando aniversários…
Informaram-me, muitos anos depois, como era o dia a dia da minha avó paterna, Isabel. Destacavam seu comportamento e sua persistente obsessão do medo da morte. E assim, ela não gostava de aniversário, nem da sua proximidade, para não ser avisada sobre a aproximação do fim do caminho… Há uns que têm medo da vida; na verdade, o da morte provém de uma expectativa equivocada, que seria uma expectação, que deveria se desfazer pela tão natural e universal certeza de que tudo aquilo, que é vivo, morre. O lamentável da morte é a perda da nossa sensibilidade, de tudo que sentimos nas mais expressivas circunstâncias prazerosas da vida.