O mundo está cheio de indivíduos que, adoentados, ignoram de qual doença estejam acometidos. Sofrem, percebem sintomas, sentem dores ou mal-estar, mas não sabem a causa ou o complexo de causas que os aflige, havendo de procurar um diagnóstico, a que não se interessa, ignorando sobretudo o nome da provável doença. Essa indiferença, quase equivale à falta de consciência de classe social, da qual muito nos elucida Wilhelm Reich, na sua extraordinária obra O que é consciência de classe?. Demonstra ele que a compreensão da ideologia capta um maior entendimento ou não das nossas relações sociais, tanto vivenciadas no dia a dia, como também em diferentes situações políticas, quando, na maioria das vezes, nada se sabe do que seja ideologia.
A ideologia é, por definição, um conjunto de ideias e valores, relativos à organização e ao funcionamento da sociedade, tendo a finalidade de orientar o trato com as coisas políticas e coletivas, mas que, no fundo, é movida por interesses de um grupo social. Há quem tema tanto a ideologia que chega a inventar o seu fim. Sobretudo quando ela exerce orientação imperativa sobre indivíduos, como se fosse um preceito dogmático, acima de todos os outros valores; crença política, que radicaliza o comportamento de não permitir que se pronuncie qualquer ideia divergente. É racional que alguém, contente com seu status quo, verbalize seu desejo: “Ideologia não existe mais”. Tal afirmação não deixa de ser ideológica, dando-lhe existência. Posto que a ideologia incomoda e ameaça a possuir mais adeptos; a adesão a faz crescer, propagar-se, o que é, junto aos interesses, sua mola, seu aguilhão.
A discriminação é, por definição, a formação de dois grupos antagônicos, quando, na realidade, pode existir neles até igualdade, o desejável. Porém, forma-se uma caracterizada separação maniqueísta: de um lado, um “eu coletivo” (ego collectivus) e, consequentemente, no outro lado, um “outro coletivo” (alter collectivus). Por exemplo, os nazistas fizeram dos arianos seu “eu coletivo”, opondo-o aos judeus, “o outro coletivo”; os machistas fazem dos homens o seu “eu coletivo”, discriminando as mulheres, seu respectivo “outro coletivo”. E assim acontece quanto às raças, às religiões, às ideologias e aos partidos políticos.
Tenho observado, nos pronunciamentos políticos, a discriminação sendo reacendida em relação a posicionamentos políticos-ideológicos de alguma facção partidária com candidatos, especialmente sobre atitudes assumidas em remoto passado da vida política do nosso país. Idiotas discursos. Assisti a filmes idênticos a tudo isso nos históricos períodos de repressão. Ora, ser honestamente adepto de algum partido não é, em si, conduta condenável. Pelo contrário, tal diversidade política torna mais rica a democracia.
Enfim, é de se presumir que todos os cidadãos desejem o bem da sua sociedade… Mas, qual é o caminho para se chegar, econômica e politicamente, ao bem maior e coletivo da sociedade? Para isto, as propostas políticas e ideologizadas são caminhos diversos com diferentes sinalizações. Daí, a disputa sobre qual caminho melhor para se conseguir, com eficácia, este objetivo, que deveria ser politicamente os partidos, com ideologia, idealizar programas definidos por uma melhor política social. Mesmo que se constate a contraditória incoerência desses partidos, quando mudam de sigla, segundo sua conveniência, alheios à ideologia de todos os partidos, desde que lucrem, em desrespeito ao voto que receberam, alguma coisa em cada um deles. Certeza de que o leitor tem sua ideologia. Qual é ela? Ou prefere nada saber sobre ideologia?
DESTAQUE: Ora, ser honestamente adepto de algum partido não é, em si, conduta condenável.