A conversa girava em torno de erros médicos. Comentávamos uma cirurgia que havia sido feita na perna direita de uma moça com problemas na perna esquerda. Ao redor da mesa cada um queria contar um caso parecido, porém o dono da padaria tinha preferência. “-Rapaz, eu cai da bicicleta e um taxi me levou ao hospital. Vocês acreditam que ao invés de engessarem meu braço direito engessaram o braço do taxista?”.
É sempre assim; um nível de humor que beira o surrealismo. Um exemplo simples é o do Dr. O. C.: “- Meus amigos, completei ontem 80 anos, mas estou com um tesão de 85 anos”. Para que vocês tenham uma pálida ideia do nível de desprendimento, ao contrário dos machos gabolas que povoam os bares, naquela padaria já se fez até um campeonato para escolher quem era o velhinho mais impotente.
Morando em Salvador, meu enorme amigo Toinho Amaral sempre que vem a João Pessoa passa por lá para saber as novidades. Da ultima vez que aqui esteve começou a perguntar por amigos antigos. As respostas seguiram-se: “-Fulano morreu na pandemia, sicrano está morando em Recife, beltrano alisou e Maninho casou-se”. Surpreso, Toinho perguntou se fazia muito tempo que Maninho havia casado. A resposta do senhor J: “- Já faz tempo sim, até já é corno!”.
Vez por outra até tentam fechar negócios, mas é totalmente impossível rolar algo mais sério. Eu mesmo intermediei a venda de dois carneiros ao empresário Hugo M., que quer pagar minha comissão quando nascerem filhotes, ou seja, quer me dar um borrego. O mais interessante é que no flat onde moro mal sobra espaço para mim, quanto mais para um carneiro em crescimento.
Porém frequentar a padaria é mil vezes melhor que ir a qualquer bar. Logo de cara o custo de três expressos é infinitamente menor do que uma única dose de uísque. Igualmente importante; na padaria jamais existirão bêbados enchendo seu saco ou ameaças à saúde dos frequentadores pela ingestão etílica. Um ultimo detalhe; enquanto nos bares você não pode evitar os chatos, na padaria quando um deles senta-se ao nosso lado é muito comum assistir a uma debandada geral, saindo um de cada vez sutilmente, ficando o “mané” sozinho, sem entender porque.