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Monteiro e o Borborema Cangaço (Thomas Bruno Oliveira)

 
Portal de entrada em Monteiro, Parahyba - TB

Portal de entrada em Monteiro, Parahyba – TB
 

A PRIMEIRA VEZ QUE ESTIVE EM MONTEIRO, foi por obra e graça das pesquisas em arqueologia na Parahyba. Na época, nos idos de 2006, tive a alegria em conhecer a Serra do Jabitacá, berço nascedouro do Rio Parahyba. Lá, visitamos o ‘Abrigo das Emas’, um sítio rupestre lindíssimo onde tem uma ema desenhada em maior tamanho e outras pequenas atrás dela. É de uma singeleza incrível e uma demonstração não só que esse animal fez parte de nossa fauna, registrado petreamente em vermelho ocre, há pelo menos dois mil anos, mas a importância que a ave tinha para nossa população pretérita. Na base do serrote, assim como fazemos, improvisamos uma fogueira e cozinhamos arroz, batatinha inglesa e um pouco de carne, além de um forte café.

 
Cena emblemática de milhares de anos, Abrigo das Emas, Monteiro-PB

Cena emblemática de milhares de anos, Abrigo das Emas, Monteiro-PB
 

As panelas e o fogo ficaram por conta do arqueólogo e Professor da UEPB Juvandi de Souza Santos, que, por anos, foi um dos chefes de um grupo de escoteiros em Campina Grande de nome Baturité, formando “lobinhos”, garotos que aprenderam a disciplina de estar “sempre alerta”, fazendo o bem, caridade e auxílio sempre. Se virar no mato, aprender a cozinhar, fazer fogo, e tudo mais, são formas de sobrevivência que o escoteirismo é uma importante escola. Em Monteiro, conheci também a “Pedra da Igrejinha”, por trás de uma casa na zona rural, uma loca que abriga uma série de inscrições circulares, todas em vermelho ocre de uma expressão e beleza imensa. Ao redor de Monteiro temos inscrições rupestres em Prata, lembrando do sítio arqueológico Caxingó, com testemunhos ancestrais da região em tinta vermelha, preta e branco, inclusive um antropomorfo (forma humana) que parece estar decapitado. Sumé, Serra Branca, Camalaú, São João do Tigre são cidades próximas que possuem uma riqueza imensa em testemunhos rupestres. A Área de Preservação Ambiental das Onças, APA das Onças, “no Tigre”, como dizem os viventes dos Cariris Velhos, tem uma riqueza descomunal onde as inúmeras inscrições são só um detalhe em meio a uma cultura ancestral que podemos ver por todos os lugares. Se pensa em pintura em perspectiva na renascença, mas não sabiam que há pelo menos 2mil anos os nossos povos antigos já pitavam em perspectiva nos rochedos.

 
Com meu saudoso amigo Pedro Nunes na Fazenda Areal, centenário dos ocorridos em 1912 - TB

Com meu saudoso amigo Pedro Nunes na Fazenda Areal, centenário dos ocorridos em 1912 – TB
 

Pois bem, voltar a Monteiro me faz lembrar do Padre João Jorge Rietveld, antigo pároco e que escreveu “A Herança de Manoel Monteiro” (Imprell, 2002) contando a história da paróquia que se confunde com a história do município. Me lembra também o querido e saudoso amigo Pedro Nunes Filho, que perambulou por Prata, Monteiro e o Pajeú pernambucano em sua pesquisa sobre Augusto Santa Cruz, a quem deu a alcunha a Augusto de ‘Guerreiro Togado’, título de seu livro mais celebrado, lançado em duas edições. Ele que me recebeu muitas vezes em sua casa no bairro de Aldeia, a velha Aldeia dos Camarás entre Recife e Camaragibe, cidades pernambucanas, onde muito conversávamos sobre o Mundo-Sertão, sobre os Cariris Velhos. Ele, por carta e também por email, me chamava de: “Meu menino bom dos seiscentos djabos!”. A afinidade teve início “na Prata”, onde o seu sobrinho Marcel Nunes foi prefeito no início dos anos 2000. Admirando a igreja matriz, ele me chega, se apoia em meu ombro e diz a frase célebre que publicou em seu livro sobre o Mundo-Sertão: “Menino Bruno, o Mundo-Sertão tem um lado físico e outro figurativo, o primeiro está onde nossa vista alcança, o segundo, dentro de nós, na alma, no coração”. Pedro tem como sobrinhos Pedro Rômulo Nunes (de Livramento, e que mora em Recife e criou em sua fazenda o Museu do Homem do Cariri), Eugênio Nunes, da loja ‘Só Tratores’ aqui no meu Bodocongó (a quem Pedro chamava de Eugeninho) e muitos outros que ele encaminhou nos caminhos dos estudos, do trabalho, dando régua e compasso, testemunho que muitos deles me contam e me emocionam.

 

Foi assim, saí de minha Bodocongó em 29 de agosto de 2025 logo cedo em direção a velha Alagoa do Monteiro, na companhia de meu amigo Julierme do Nascimento, presidente do Borborema Cangaço e o motivo foi, exatamente, discutir com o poder municipal o nosso evento, o V Borborema Cangaço – MONTEIRO que será realizado no fim desse setembro e que contará com palestras, lançamento de livros e a participação de autoridades nas pesquisas do cangaço como o confrade Bismarck Martins Oliveira, lançando seu mais novo livro, um dicionário cangaceiresco dos cangaceiros de Antônio Silvino de A à Z (assim como fez com Lampião) que já conta com o extraordinário número de 271 nomes.

 
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O Presidente Julierme, apresentará seu primeiro volume do livro sobre Antônio Silvino e teremos palestras, como na abertura, com o reconhecido nacionalmente Aderbal Nogueira, falando sobre sua trajetória de pesquisa sobre o cangaço. Fabiana Agra lançará seus livros, Gutemberg falará sobre Leandro Gomes de Barros e lançará seu livro. José Tavares de Araújo Neto, de terras pombalenses, lançará o seu livro sobre José Américo de Almeida na Revolta de Princesa. Teremos um grupo de coco de roda direto do município do Congo, além de um monólogo do consagrado e genial escritor, ator, roteirista e cineasta Gilmar Albuquerque sobre Augusto Santa Cruz e a “revolução de 1912”.

 

Haverá uma visita técnica à fazenda Areal, em Prata-PB, palco dos eventos de Augusto Santa Cruz e um city tour (um passeio pelos principais lugares da cidade), museu histórico, Teatro Jansen Filho, prédio dos Correios, o Prédio da Prefeitura e seu acervo de máquinas dos tempos do algodão, a belíssima Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, o Mercado Público e o famoso ‘Beco da Poesia’, onde o passeio será finalizado por poetas e violeiros.

 
Eliane, Beato Vicente, Eu, Nanido Cavalcante e Julierme Nascimento, Secretaria de Cultura e Turismo - TB

Eliane, Beato Vicente, Eu, Nanido Cavalcante e Julierme Nascimento, Secretaria de Cultura e Turismo – TB
 

Devo fazer uma saudação especial ao Secretário de Cultura e Turismo Nanido Cavalcante e a Secretária Adjunta Eliane e ao vice prefeito Cajó Menezes, pessoas de primeira qualidade e que muito vão colaborar com o evento. Na volta, devo falar da alegria que foi parar em Serra Branca e no Copo Fino de Neném, encontrar os confrades do Instituto Histórico e Geográfico de Serra Branca – IHGSB (parceiro do evento) Sérvio Túlio e Juarez Ribeiro Araújo, o Prof. Juca. Soube por eles de muitas coisas que vem ocorrendo no município e lamentei não ver o amigo José de Sousa Pequeno Filho, o Prof. Zezito, que estava na morada dos pássaros, seu ranchinho lá no Sítio Bento, mas ficará para uma próxima com toda certeza. Sobre a visita e os detalhes das questões urbanas, só uma ou mais crônicas para dar conta, fica para uma próxima.

Nenem Copo Fino, Prof. Juca, Julierme, Thomas e Sérvio Túlio no histórico Copo Fino

Nenem Copo Fino, Prof. Juca, Julierme, Thomas e Sérvio Túlio no histórico Copo Fino

Cariris Velhos, Mundo Sertão, terra do meu coração. Monteiro, nesses dias eu volto.

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