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MINHA LAGOA E AS PALMEIRAS-IMPERIAIS (MARCOS SOUTO MAIOR (*)

 

                Nunca cansei de descer a rua Santos Dumont, endereço no qual residia com os meus queridos pais e irmãs, para ver o belo parque da capital paraibana, onde descortinavam os jardins, uma lagoa resplandecente envolta de palmeiras-imperiais, formando um gramado verde e bem cuidado que chegava à beira do espelho d’água e à fonte iluminada que acendia às noites, local que todos já chamávamos de “o coração da cidade de João Pessoa”. A única construção existente, até estes dias, resumia-se ao Cassino da Lagoa que, impedido pelo governo federal, transformou-se em restaurante, passando por palcos para comícios políticos dos dois maiores partidos do país, PSD e UDN, e lugar de discursos memoráveis do maior orador paraibano, Alcides Carneiro, ao lado de José Américo de Almeida, Rui Carneiro, Argemiro de Figueiredo, Pedro Gondim, Ernani Sátyro e, ainda, do poeta e político Ronaldo Cunha Lima. O restaurante, inclusive, por inúmeras vezes, teve arrombadas as portas do almoxarifado e saqueados os alimentos estocados, em um episódio que redundou num amedrontador inquérito na Polícia Federal, já nos idos dos anos sessenta.

                Historicamente, em 1940, o célebre paisagista brasileiro Roberto Burle Marx fora convidado para oferecer seu impecável trabalho, destacando-se com ipês, paus-brasis, acácias e extenso bambuzal, dando impulso à manutenção da Lagoa dos Irerês que, mais tarde, seria passaria a se chamar Parque Solon de Lucena, em memória ao governador paraibano que mandara cobrir, com calçamento de paralelepípedos, ao redor da nossa lagoa. Falar nisso, se assistiam marrecos e garças que passavam o dia todo em redor da água e, à noite, voavam em direção do Parque Arruda Câmara, conhecida também por Bica, ­onde há uma fonte de água doce e pura, sendo, atualmente, o zoológico da Paraíba.

 Com meus amigos de calças curtas, sempre procurava a atração maior, que era correr pelos gramados até os marrequinhos alçarem penas se espalhando pelo céu e cantarem em revoada! Enquanto o guarda da praça, de cassetete em punho, saia correndo em perseguição da meninada e apitando, arrodeando a calçada contínua e bradando a plenos pulmões.             

                Fui testemunha do desastre na Lagoa, em 25 de agosto de 1975, quando era Chefe de Gabinete da Secretaria de Segurança da Paraíba e, numa homenagem ao Dia do Soldado, as autoridades militares disponibilizaram uma balsa para a comemoração pública, a fim de a população passear pelas águas brandas da Lagoa. Com número excessivo de passageiros embarcados no veículo aquático, ocorreu tragédia de grandes proporções, levando à morte por afogamento trinta e cinco pessoas, das quais vinte e nove crianças. Os corpos da maioria das vítimas demoraram a subir e passei o dia todo ajudando nas liberações das vítimas. Desde então, nunca mais ninguém andou de barco por lá e as águas continuam serenas!

                Muitos administradores se arvoraram em tentar um projeto público moderno que acabasse a poluição do Parque central da cidade, que diariamente recebe dejetos e esgotos proveniente das antigas e poucas galerias da cidade. O desejo popular já vem de muito tempo com dias marcados, apesar da incerteza sofrida por esperar a conclusão há muito iniciadas.    

Alheio a isso, permanece imutável o meu fiel amor pela Lagoa e suas palmeiras-imperiais, sendo mais um sonho que aguardo determinado pela chegada dos dias de sol que dão vida e revitalizam aquela bela área que precisa ser relida em sua história. 

(*) Advogado e desembargador aposentado