Pular para o conteúdo

Blog do Vavá da Luz

MEUS VIGARISTAS PREDILETOS -II (Marcos Pires)

       O mais inteligente dos vigaristas que conheci não era americano nem europeu, sequer paulista ou carioca. Era nordestino. Comerciante ladino e envolvente, notabilizou-se por golpes fantásticos.

        Um dia a fiscalização chegou aos seus armazéns no momento em que ele descarregava uma enorme carga de açúcar totalmente sem notas fiscais. Os agentes do governo exigiram as tais notas e ele confessou que não tinha. Depois de muitos esbregues virou-se para seu gerente e gritou: “- É, João, tem jeito não, cancela a entrega e manda descarregar os caminhões”. Ora, se ele já estava descarregando antes…!

          De outra feita participou de uma concorrência para fornecer caminhões a um famoso órgão público. Só que ele jamais trabalhara com a venda de veículos, e para piorar a situação, teria havido um conchavo dos dirigentes da tal repartição com uma certa fábrica para que ela fosse a vencedora da licitação, na qual seriam vendidos cem caminhões. O que ele fez foi coisa de gênio. Propôs a venda dos caminhões por um preço 10% menor que o preço da própria fábrica. Ao mesmo tempo foi até os diretores da fábrica e garantiu que faria a compra a eles, bem assim procurou o pessoal que arrumara a licitação fajuta e pagou a comissão que eles haviam acertado. Por fim, mandou pintar nas laterais dos cem caminhões os símbolos do órgão público e os trouxe em comboio desde São Paulo até o Nordeste. Claro que nenhum guarda ou fiscal mandou o comboio parar ao longo do percurso. Melhor para ele, porque os caminhões estavam abarrotados de mercadorias sem notas que ele vendeu com um lucro espetacular. Toneladas de sonegação em caminhões oficiais.

          Durante muito tempo a importação de baralhos americanos para o Brasil foi proibida. Pois ele foi aos EUA, comprou uma quantidade impressionante de baralhos, retirou os ases e embarcou o resto num navio que vinha para o Brasil. Ele voltou de avião e trouxe nas malas somente os ases. Ao desembarcar fez uma denúncia anônima à Receita Federal sobre o contrabando que embarcara no navio. Quando o navio aportou, a carga foi apreendida, mas ao ser levada a leilão somente um doido se apresentou para arrematar aqueles baralhos sem serventia, porque não tinham os ases. O doido era ele, que juntou os ases completando os baralhos, legalizou a carga e durante vários anos vendeu baralhos cuja importação era proibida aos outros, mas certificada a ele pela própria Receita Federal.

        Mas um dia ele deu uma tacada errada, e se for do seu gosto, eventual leitor, contarei esse caso na próxima semana.