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Maranhão, uma rica vida modesta (Damião Ramos Cavalcanti)

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Maranhão, uma rica vida modesta

Antes da devida idade, José Maranhão se lançou na política, vocação que lhe parecia inata, como descreve Platão as animae vocacionais, na República. Filho de Beja, político e ex-edil de Araruna, ambicionou parlamentar na Assembleia Legislativa (1955 – 1969), pulando a vez de ser vereador ou mesmo prefeito da sua terra. Desde então, foi exemplo de fidelidade partidária, ingressando no PTB, quando esse partido, sob a liderança de Getúlio Vargas, a filiação de João Goulart e os veementes discursos de Leonel Brizola, reunindo nacionalistas e posicionamentos em favor das causas trabalhistas. Por ser assim, essa agremiação foi extinta pelo AI-2, perseguição do golpe de 1964. Anomalia política que pariu outros arbítrios, como o de existirem apenas dois gigantescos partidos: Arena, o do Governo; MDB, o de discreta ou simulada oposição. Os radicais da discrição oposicionista foram cassados dos direitos políticos, por dez anos, em 1969; dentre esses, recordo-me bem de José Targino Maranhão e do seu companheiro de lutas, Mário Silveira, deputado eleito pela região de Itabaiana. Em 1980, estava eu em Itabaiana, na Rua da Maloca, quando os dois festejaram, com centenas de populares, o fim das suas cumpridas e compridas cassações. Como se verifica, Maranhão lutou até o fim da sua vida, sem sair do seu partido…
Depois de cassado, retornou, dando a volta por cima, para ser Deputado Federal, em 1982, engajando-se num movimento de esquerda pela “Diretas Já”, sob o comando do inauferível democrata Ulisses Guimarães. Assim, preservou, durante anos e anos, sua respeitada presença na Câmara Federal. Enquanto Deputado Federal, compôs, como Vice, a chapa de Antônio Mariz ao Governo do Estado; mandato afetado pelo câncer de Mariz, que lhe confiou as rédeas da governança, até ser sucedido. A partir de então, Maranhão governou com maestria, sendo chamado pelos seus eleitores de “Mestre de Obras”, durante três mandatos. Apenas minha memória, sem consultar algum alfarrábio, relembra essa sua respeitável trajetória. Obrigo-me a essas lembranças, ao conhecê-lo mais de perto, como seu auxiliar, quando convidado por ele, sponte sua, a fazer parte dos seus Governos. Na primeira vez, para ser Presidente da Funesc, onde se realizou memorável gestão de ricos eventos, funcionamento pleno dos seus espaços de cultura e de grandiosos festivais, como os quatro Fenart. Na segunda vez, também sponte sua, para fazer um trabalho restaurador de proteção à Memória, como Diretor-Presidente, do Iphaep. Seu incondicional apoio, ao meu modo de gerenciar, mesmo dentro de sua linha austera, severa e parcimoniosa com os gastos públicos, gerou exitoso e elogiável aproveitamento dos parcos recursos para tantas necessidades. O povo foi sensível ao verificar esse sucesso, elegendo-o, quase sem campanha para o Senado da República, momento em que ele destacou sua maturidade política, tido como “a voz da experiência”, demonstrando que é difícil enganar os mais experientes, sugerindo-lhes coisas pessoais, individualistas, que ultrapassem o entendimento e apenas interessem desejos contrários ao Bem Comum.
Antes da devida idade, Maranhão sonhou ir às alturas. No dia a dia, essa era a sua afeição: voar, ao ponto de saber consertar suas próprias asas. Lavava suas mãos sujas de óleo, para assinar papéis limpos, que o comprometiam com necessidades “estruturantes” do povo. Exímio piloto, dizia saber conduzir bem seus governos, porque via, do alto, a Paraíba na sua inteireza. Gravou, conduzindo sua nave, a confissão de que era mais piloto do que político. E assim, como Saint-Exupéry desapareceu, tentando ultrapassar o além das nuvens, José Maranhão voou, agora, mais além, a caminho dos céus, em direção do infinito.

Damião Ramos Cavalcanti