Algumas pessoas se caracterizam por dizer, e às vezes repetidamente, o óbvio; parecem ter um prazer pelo excesso de clareza sobre o que já é evidente. E ainda se aborrecem, quando escutam um gritante “é claro!”. Falar sempre o óbvio se forma uma mania, o que abunda, por esse mundo afora, sobretudo da boca de quem possui a mania da verborreia ou da verborragia. Quem já não ouviu um “deixe de mania”? Há também quem goste frequentemente de dizer “é claro” ou “é lógico” para aquilo, de que se trata, carecendo de pouca lógica, também de certeza, em tantos habituais “com certeza”… Também tenho eu mania, a de observar essas coisas. Melhor esse tipo de obcecação: a de observar essas coisas excêntricas, do que manias esquisitas, beirando a doidice, que legitimaram a expressão: “todo doido tem uma mania”, ou sofre de uma doentia ideia fixa, às vezes, tão extravagante esquisitice que nos espanta. Não chega a ser inconveniente, tampouco um mau costume.
Nesse sentido, a mania pra valer tem de ser anormal, uma anormalidade que foge do que é comum. Por exemplo, normal é tomarmos banho todos os dias; mas, dez banhos, é mania; sobretudo, muito pior é não tomar banho, não se lavar de jeito algum, como se fosse bode com medo de água, cheirando muito a mania. Nem todo hábito é uma mania, mania com sabor popular há de possuir excentricidade, como se fosse, pelo menos, um aceno de psicose maníaco-depressiva. Faz rir, mas a coisa é séria. Conheci quem voltava para casa de longe, para pendurar um currimboque no pescoço, não para guardar rapé, mas tão somente moedas que fossem de dez centavos.
As manias mais famosas não são aquelas do bobo da corte, mas as do próprio rei. O poder nos libera a manias, livres de qualquer crítica; comportamentos estranhos a que o maníaco dá jocosa finalidade. Para que artista urinar, antes de subir ao palco, somente se for no lixo do camarim ou ser caminhoneiro que só urina em garrafas vazias, que sejam lavadas e brancas? Mais cômodo e confortável é só viajar com os seus “usadíssimos” lençol e travesseiro. Contam que Joseph Stalin, desde menino, não dormia no mesmo lugar, variava mais de quarto do que de pijama. Depois, com os poderes na mão, tinha para dormir mais de dez quartos no Kremlin, bem fechados, à sua disposição. Autoproteção? Ou isso o motivaria a não sonhar sempre o mesmo pesadelo? O medo constante de ameaças de pretensos inimigos torna o medroso um maníaco paranoico, como foi o caso, do rei inglês Henrique VIII, no final da sua vida, depois de enforcar ou decapitar vários súditos palacianos, até a sua Ana Bolena e o célebre e corretíssimo Thomas More. Mais branda mania era a de Dom João VI que, tendo à sua mesa comida e guloseimas, quando e onde quisesse, sempre enchia os bolsos de coxas de frango assado, bem gordurosas, para comê-las, em qualquer lugar do seu reinado.
A mania parece ser uma inconveniência, talvez um transtorno bipolar; não para quem a pratica, mas para os circunstantes. Ao acontecer, talvez perturbe, como era o caso do Primeiro Ministro italiano, Silvio Berlusconi, a colecionar bolinhas de catota na mão para comer essas melecas, não repugnantes a ele. Sem confessar a ninguém, revise, caro leitor, qual das suas manias é inconveniente, porque ela não se sujeita à alguma inibição. Atualmente, com a pandemia, surgiu um surto de quem se ache médico ou cientista, mania de receitar cloroquina a quem não está infectado de malária; e chega a cometer o abuso, quase diariamente, de se “medicar” com ivermectina, sem verme algum, a não ser a própria mania. “Gostos não se discutem”, maníaco bebe qualquer elixir, mesmo em tempo de silibrina…