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JORNALISMO OU PROPAGANDA IDEOLÓGICA? (Rui Leitão)

 

Não se pode generalizar, mas boa parte da mídia corporativa tradicional brasileira, tem se dedicado muito mais a produzir propaganda política, movida por interesses ideológicos, do que o jornalismo sério e responsável. O ofício de reportar com sobriedade, lucidez e honestidade, fica prejudicado pelos estrategistas de marketing político, fomentando falsas polêmicas, estigmatizando personagens, disseminando boatos e versões, omitindo fatos e números, na conformidade do que é determinado pela bolha ideológica a que o veículo de comunicação está integrado.

Artigos e editoriais tendenciosos são facilmente identificados quando nos deparamos com o jornalismo praticado por essa mídia comprometida com a finalidade de assumir o monopólio da informação. A democracia fica, então, fortemente atacada por essa ideia de impor uma gestão das opiniões, buscando a adesão popular ao que intencionalmente se divulga, fabricando “falsas realidades”. Ainda que o homem seja uma criatura racional, nem sempre, ou raramente, se mostra capaz de se orientar para a verdade. A partir dessa compreensão, os empresários da comunicação julgam-se detentores do domínio público, no que diz respeito à formação de consciências coletivas.

Os fatos e ideias veiculados por essa imprensa corporativa escondem, propositadamente, suas fontes de origem, e se dedicam a produzir mensagens midiáticas que alcancem as massas, na perspectiva de mostrar eficácia no contexto social em que é trabalhado o efeito da propaganda ideológica. O controle da opinião envolve a necessidade do aproveitamento de uma realidade a ser construída, mesmo que contrariando verdades evidentes. Aí o jornalismo exercita o estelionato, uma malandragem ardilosa.

O jornalismo competente tem que ter a consciência de que desempenha papel importante no comportamento e percepção cognitiva do homem contemporâneo para encarar a realidade do dia-a-dia. Sem jamais desprezar a noção de ética, atento às responsabilidades civis, bem como aos direitos humanos e às individualidades. Não pode, nem deve, se restringir a construir consensos ideológicos na sociedade. Nem estou exigindo neutralidade ou imparcialidade absoluta, mas fidelidade aos fatos, que podem ser divulgados com as manifestações críticas que se determinem convenientes. Não há como ignorar, portanto, que, numa sociedade mediatizada, os grupos poderosos exercem mais influência na definição das pautas jornalísticas, objetivamente interessados no atendimento do que melhor lhes convêm polIticamente. E é aí onde reside o perigo. A produção jornalística é uma reconstrução da realidade, muitas das vezes manipulada.

Rui Leitão