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FINALMENTE, ÁGUA PARA BEBER! ( MARCOS SOUTO MAIOR (*)

 

                               Embora a seca nordestina seja um flagelo repetido todos os santos anos, atual falta d’água deste período superou os anteriores, sob o olhar indiferente dos poderes públicos e dos ricos empresários que só se preocupam com o lucro fácil de seus negócios.

                               Sou devoto de muitos santos, e escolhi com veneração, Santo Pedro e São José, para intercederem nos céus pela vinda urgente, aos campos esturricados, onde a água e a comida só se veem em jornais e revistas velhas, jogadas no lixo! Contudo, a fé inabalável no Senhor é tudo que o sertanejo mantém no pobre coração, que mal bate para manter a circulação do sangue da vida.

                               Até mesmo a mídia brasileira, não deu muita atenção à calamidade do nordeste, talvez porque seja matéria repetitiva, mas abriria inescusáveis espaços visando retratar a desgraça e, chamar à devida responsabilidade de todos. A seca de 2013 chegou ao cúmulo da irresponsabilidade de se priorizar a distribuição do precioso líquido, onde até a fraude na distribuição de água para beber, com muitos caminhões tanques de distribuição misturaram o produto limpo com restos de gasolina e diesel.

                               A população cristã da nossa região, bem que se mobilizou em tentar amenizar a fome e a sede, dentro de suas limitações materiais. Pela simples razão da fé cristã, o matuto do sertão nunca parou de rezar, e não é que a resposta lá de cima veio!

                               Nestes últimos dias, nuvens carregadas apareceram no horizonte se dirigindo para várias áreas de calamidade pública, suspendendo a folia do início do calor do verão nordestino para surgir a desejada chuva. Importante porque vieram em volume necessário para encher desde as cisternas, passando por barragens e chegando a centenas de grandes açudes que receberam água por um bom e alentador tempo.

                               É do consagrado Luiz Gonzaga, com a música “Paraíba”, que assim ilustrou o desencanto do nosso povo: “Quando a lama virou pedra e Mandacaru secou. Quando o Ribação de sede bateu asa e voou. Foi aí que eu vim embora, carregando a minha dor. Hoje eu mando um abraço pra ti pequenina. Paraíba masculina, muié macho sim sinhô!”

                                Não como num gracioso passo de mágica, os habitantes nesses dias atuais, olharam para o céu e, em ato contínuo, olharam para o solo rachado, totalmente inundado pelas águas das chuvas recobrindo todas as margens das correntezas da mãe natureza. Aos pouco, o povo saiu de suas casas, em romaria de agradecimento ao Divino e seus santos, sem cançar de olhar para o céu até perder de vista, o imprevisível volume d’água que caía de cima sobre os pobres flagelados da seca.  Os incrédulos chegam também e, fazem questão de alardear a presença de uma ventania inesperada que fora desviada para conduzir as correntes marítimas para o nordeste.

Besteira, porque as chuvas negras e pesadas foram transformadas pela natureza, se derramando pelo seio da terra estéril, para cobrir seus sulcos, tornando solo fértil, para gerar bons frutos de pura bondade e amor! 

                                                                                                   (*) Advogado e desembargador aposentado