Gurjão e o destaque de sua Matriz de São Sebastião
ALGO ME INCOMODAVA naquela madrugada de sábado para domingo (3 de setembro de 23), o sono era perturbado não sabia o porquê. Pela manhã a rotina domingueira me guiava: Café quentinho, pão, queijo coalho. Pelo rádio, o cantor Roberto Carlos nos embalava com canções românticas em programa apresentado pelo radialista Oscar Neto, até que me chega uma informação que me tirou do rumo, do prumo, a partida do meu amigo Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins, um ávido pesquisador pessoense que vinha há algum tempo resistindo a uma doença que se instalou em sua próstata.
O conheci em 2005 em um evento na capital parahybana, sua simpatia e atenção com aquele garoto que eu era me encantou; de sua estética não podiam faltar a barba muito bem aparada, o suspensório e um sorriso largo e contundente. De lá para cá foram muitas conversas, almoços em encontros maravilhosos. Sempre me tratou com ternura em uma postura contagiante e motivadora, tudo isso com bastante lhaneza seguida de uma educação fidalga. Sua predileção pela história colonial da Parahyba era admirável e seus trabalhos são ótimas contribuições para a compreensão desse período histórico. Fiquei muito tocado com a partida de mais um amigo em pouco tempo, me deixando completamente taciturno.
Eu ao lado dos amigos Guilherme e Carlos Azevedo em 2006
Alguns instantes após, minha amiga Ritinha Cantalice me liga. Com voz diferente e um jeito um tanto avexado, me conta emocionada que nosso jovem amigo Carlos Antônio, Presidente do recém-criado Instituto Histórico e Geographico de Gurjão acabara de falecer. Aos 41 anos, Carlos acumulava esse cargo de presidência com a titularidade da Secretaria de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia de Gurjão (nos Cariris Velhos) por onde ele vinha dando suporte a inúmeros projetos não só envolvendo meio ambiente e educação como o próprio sopro de cultura que varreu positivamente todo o município com a criação do IHGG e o Museu Histórico Raulino de Medeiros Maracajá. Nos falávamos todos os dias, havia sempre algo a resolver, a pensar, a refletir. Em pouco tempo, esse amigo que a vida me deu se transformou em um irmão. Com simplicidade e determinação, chamou para si muitas responsabilidades, o que aumentou sensivelmente sua carga de trabalho. “Thomas, depois de 3 e meia da manhã, se precisar, pode ligar ou mandar um ‘zap’. ”, foi assim que viveu os últimos meses, foi dessa maneira que entrou naquela quadra de esportes para ‘bater uma bolinha’ de fim de semana em que um mal súbito o acometeu. As massagens cardíacas feitas pelos amigos em quadra buscavam incessantemente trazê-lo de volta, até que chegou o socorro médico que mais nada pode fazer.
(Dir/Esq) Daniel Duarte, Carlos Antônio, Fernando Maracajá, Thomas e um funcionário municipal
A notícia voava de boca em boca, as pessoas não acreditaram. A cidade inteira sentiu, todos estarrecidos com a partida de nosso querido amigo Carlos. Foram tantas as coisas que deixou, eram tantos os projetos e a vontade de ver sua cidade crescer. Na mesma hora fui dar a triste notícia a Rossino que foi em busca de Daniel Duarte (que não usa celular) na Feira da Prata e fiquei de ter mais informações. Ao desligar o telefone, fui abraçado por um choro forte, puro, desolador. Não estava acreditando como até este momento em que vos escrevo, meus caríssimos leitores, continuo sem chão. Desolado com as avassaladoras notícias, passei o restante do dia de cama em um luto difícil de digerir. Quantas risadas em Daniel? Quantas brincadeiras em Rossino? Tudo parece mentira.
Passados alguns dias, tive a feliz oportunidade de receber em Campina uma comitiva de familiares vinda de Recife, mas foi com os irmãos Nando e Fernando que passei mais tempo relembrando nossos encontros inclusive na Boa Terra, de onde Fernando deixou seus afazeres para se deleitar em seio familiar. O encontro foi ensejado pela recepção que meus pais fizeram com muita alegria em sua casa nova, lá estavam familiares e amigos. No mesmo fim de semana, celebramos a vida de minha avó paterna, Dona Socorro carinhosamente chamada por mim de Poté. Um culto cristão foi conduzido por seu filho mais novo, meu tio Nelson, logo após foi servido um jantar. São 83 anos bem vividos. Filhos, netos, noras, genro todos envoltos de um regozijo singular, agradecemos muito a Deus.
Com minha avó Poté que completou 83 anos.
Assim é a vida, entre choro e sorrisos. Os amigos Guilherme e Carlos, cumpriram sua missão e agora estão na paz celestial; enquanto a nós, apesar das perdas estonteantes, temos que seguir, buscar nosso rumo e viver até quando nosso Senhor permitir o sopro da existência terrena, comtemplando a vida e celebrando a companhia de quem tanto gostamos.
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Publicado na coluna ‘Crônica em destaque’ do Jornal A União em 16 de setembro de 2023.