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Ê Sertão…      Thomas Bruno Oliveira

Ê Sertão…      Thomas Bruno Oliveira

Descendo a Serra de Santa Luzia - TB
Descendo a Serra de Santa Luzia – TB
 

QUANDO VIAJO EM MEU CARRO, acordo naquela energia única, prazerosa, imaginando no que viria a ser o percorrer aquelas distâncias, por maior ou menor que fossem. Nessas horas lembro de uma fala que minha mãe fez, certa vez, quando viajou comigo: “É impressionante tua tranquilidade, viaja sem pressa, explicando as coisas por onde a gente passa. Para e tira fotos, a viagem pra tu é um evento!” Pior que é mesmo. Sou observador, gosto de ver os lugares, os contornos que tecem e destecem meus caminhos.

 

Agora, quando estou a depender de um transporte de um amigo que vem a dirigir, por mais especial que seja o querido professor e o carro, fico com um ôco no estômago, tomado por uma ansiedade que não sei a quanto tempo de João Pessoa ele chega. Não consigo relaxar, ler, me concentrar em absolutamente nada. A náusea é tamanha que, já no carro, me atrapalho em orientar como saímos do velho Bodocongó para seguirmos rumo aos sertões. Mas vamos lá.

 

O incômodo vai sendo amenizado com a observação da pracinha do amor, do distrito de paz de São José da Mata que despertava e os “cordões de serra”, do Maracajá, do Engenho, da Raposa, Fazenda Cabeça de Boi e todo o movimento de terras na Praça do Meio do Mundo. Me parece que ali será construído um outro viaduto nessas obras de duplicação da BR 230, tamanha desfiguração dessa praça histórica. Mais à frente, do lado esquerdo, uma série de matacões contém pinturas rupestres, lá no sítio Corta dedo. Numa certa curva, brinco chamando a rocha de pedra do sapo, formato interessante a que parece,  e daqui a pouco a gente chega a Soledade sob as bênçãos do Padre José Antônio de Maria Ibiapina. Como está bela com seus enfeites natalinos, comovente. Na terra que me adotou como filho, a querida Juazeirinho, baixo o vidro sob a justificativa de espantar uma mosca, mas na verdade queria sentir e respirar o ar gostoso, do sítio Colosso de meus amigos Agenor e Dona Corrinha, sintonizei a rádio Juazeirinho FM do amigo Toca e seu filho Jhon. Ali, literalmente, me sinto em casa!

 
Entrada de Sousa-PB - TB
Entrada de Sousa-PB – TB

Já confortável e tranquilo, penso em dar um cochilo, mas o instinto de observação não deixava, queria saber como estavam as cidades e a oportunidade de cruzar boa parte do estado pela BR 230, não se deve desperdiçar. A Serra do Brennand desponta no horizonte. Entre ela e o leito do Rio Chorão está assentada a cidade de Junco do Seridó. A paisagem é singela, as torres da igreja reformada e o cruzeiro no alto da serra dá ares românticos, envolventes. Nos dois “quebra-molas” da rodovia, vários vendedores de castanha nos abordam. Castanha de caju é sempre bem-vinda! Uma distração gastronômica para descer quase que abruptamente a Serra de Santa Luzia. Seguindo viagem, passamos por um alto e começamos a descer depois da entrada de Desterro e a Taperoá de Balduíno Lélis, de Manelito, de Ariano Suassuna. A linha férrea apontava para lá, no sentido do vale da Farinha, mas a rodovia foi teimosa e resolveu descer por um caminho mais complicado, e somos alertados que a descida aconteceria em oito quilômetros. A partir dali, a rodovia vai se retorcendo em desfiladeiro e as inúmeras marcas no guard rail nos davam uma amostra do perigo que sempre foi descer o planalto do lado ocidental.

 

Curvas para a esquerda, para a direita, placas indicando risco de desmoronamento, tudo isso assusta e vem um caminhoneiro com pisca alerta ligado e a mão esquerda para fora indicando que tivesse calma, ao mesmo tempo em que o horizonte era tomado por uma densa e intensa fumaça negra. De longe, já nas fraudas da serra, avistávamos um caminhão tanque tombado para a direita e em chamas. Todos tinham medo de uma explosão. Fugimos dali. Sob as bênçãos de Santa Luzia, passamos na margem desta cidade contemplando o rio Marias Pretas, que corre aos pés do quilombo urbano de São Sebastião. Lá na frente, o Pico do Yayu, enigmático, majestoso e depois de Patos, a morada do sol, observei como a vegetação tinha mudado. A caatinga que se seguia tinha sido viçada pelo início do período chuvoso, que é o verão. Todas as cidades, Malta, Condado, São Bentinho, Pombal, Aparecida da fazenda Acauã que ainda não conheço, Sousa, Marizópolis até chegarmos ao município de São João do Rio do Peixe, tudo verdinho. Chegamos nas costas da matriz e a torre do relógio logo apareceu, dando o ar de sua graça. Cidade bela, singela, bucólica e com seus quase 20mil habitantes detém um destaque regional no alto oeste ou alto sertão. Fui aos meus compromissos e um deles foi encontrar nosso amigo Wlisses Estrela.

 
São João do Rio do Peixe-PB - GuiaLugaresTuristicos
São João do Rio do Peixe-PB – GuiaLugaresTuristicos
 

Sertão bonito, singelo, histórico e de uma riqueza enorme. Contar sua história é, sobretudo, saber observar as nuances de cada lugar. Ê sertão, eita Mundo-sertão.

 

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