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E a Serra desceu… (Thomas Bruno Oliveira)

 

Campina, a Rainha da Borborema

E NÃO É QUE A SERRA desceu mesmo! Sim, ela, a Serra da Borborema. Era cair da tarde da última quarta-feira, a movimentação se intensificou entre diversos intelectuais. Muitos advogados, poetas, políticos, escritores, renomados da cultura parahybana e também entusiastas da história e da fé de um povo que vive a se orgulhar de suas coisas, das mais complexas às pueris, se é de cá é cheia de valor. Uma energia começou a ser expelida pela chaminé das letras fazendo muitas e muitos se irmanarem em uma sinergia que gritava muda arregimentando estes semeadores dos bons ventos a desfilarem se esparramando pelas estradas em quase uma linha reta rumo ao litoral. A Serra desceu!

 

Carros e mais carros guiados por um cavaleiro imaginário, um Dom Quixote dos Cariris Velhos, mais precisamente das fraudas da Serra do Jatobá – a Serra Branca. Logo nos primeiros raios da manhã para lá ele foi e na Fazenda Mulungú abriu um portal encantado onde o cavaleiro andante foi se ultrajar, levantar as armas do conhecimento. Das muitas aventuras de sua vida, a do dia já estava escrita nas estrelas: ergueria a espada guiando a grande comitiva para a casa de cultura das mais relevantes da nossa velha e querida Parahyba. Seu cavalo flutuava aos céus despejando com a mística caririzeira o azeite que garantiria o sucesso pleno de uma noite de posse de um imortal na Academia Paraibana de Letras e, dessa vez, quem motiva a Serra a descer é seu filho mais novo, um grande advogado e brilhante escritor.

 

Grande cobertura da imprensa parahybana

 

Tomei assento em uma van, um veículo que comporta pelo menos quinze pessoas, mas não sabia que outros tantos deslizavam no asfalto com o mesmo guia. Por uma fresta da janela, vi um cavalo alado guiado por um cavaleiro dando as instruções e partindo em seguida. Aquele sorriso inconfundível por detrás das armaduras eu conheci bem só que encarnado na pele de um outro herói, o do cotidiano, que do alto de seus oitenta e nove anos esbanja não só saúde como decência, lhaneza, hombridade, atenção, carinho além de tantas outras qualidades que são típicas daqueles que foram forjados nas terras secas da caatinga brava onde o uivo dos ventos carreia a poeira dos tempos através de rios secos. Nestes rincões parece que estamos mais perto de Deus, ali ele põe as suas bênçãos em turvas águas que transfiguram o ambiente como um verdadeiro milagre. Quem é dali do Mundo-Sertão tem outro pensamento, outra sensibilidade. Valoriza e agradece o sopro da vida a todo o tempo. É preciso aprender muito com tudo isso.

 

Ao lado do novel acadêmico Thélio Queiroz Farias

 

Chegamos um pouco antes da hora, recepcionados ternamente pela companheira do cavaleiro por toda sua vida, assinamos o livro de registros e a casa ia se apinhando de próceres. Ali já não se sabia a procedência geográfica daqueles que ocupavam os espaços. Mas uma coisa é certa, quando há eventos na casa, sempre há uma representação da Serra e alguns amigos acadêmicos se referem carinhosamente: “chegou a comitiva!”. De uma coisa não há como olvidar, eu nunca vi uma movimentação de tamanha monta para a posse de um acadêmico distante do litoral e ainda mais, em plena quarta-feira. Fiquei a observar os detalhes e refleti com meus botões: e se fosse n’uma sexta-feira?

 

Logo todos os assentos foram ocupados, até os do Jardim de Academus que estava com decoração especial e confortáveis estofados, uma maneira de aconchego, de bem receber os convidados. O evento foi prestigiado de tal maneira que se houvesse segunda e terceira sessões, assim como nos inesquecíveis cinemas, seriam lotados também. Os discursos foram o ponto alto da noite. O do novel acadêmico, contagiante e inteligente como se tal fosse uma sustentação oral em uma das grandes tribunas desse país. O discurso de recepção, por um acadêmico conterrâneo professor; foi belo, elegante, muito bem construído, digno das palmas que recebeu. A leitura do termo de posse foi feita por um acadêmico jornalista, também conterrâneo da Serra e o coquetel ao som de um violino foi a mais pura maneira de homenagem a um novel acadêmico que não parou tamanho era o assédio de seus apaixonados amigos, familiares e companheiros que com alegria souberam reconhecer que todo o brilho do escritor estava finalmente sendo valorizado.

 

Ao lado do poeta Z’Édmilson e ao centro o Dom Quixote dos Cariris Velhos, o amigo Dr. Leidson Farias

 

Foi pela grande celebração de posse na Academia Paraibana de Letras do advogado e escritor Thélio Queiroz Farias que a Serra da Borborema desceu. Desceu sim e com orgulho!

 

Da capa do Jornal A União

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