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DIA DOS MORTOS Por GILBERTO CARNEIRO

DIA DOS MORTOS Por GILBERTO CARNEIRO

ESPEREI o fluxo de pessoas diminuir. Era final de tarde quando cheguei. O lugar respirava a uma paz e calmaria intensa capaz de proporcionar um momento de extrema conexão com meu pai e meu sobrinho, que se encontram na morada das Acácias.
Aprendi a lembrar com carinho daqueles que amamos, mas que partiram antes de nós. Devemos sentir saudades, mas não tristeza, inobstante a ausência física que dói como um punhal no peito, precisamos preservar nossos corações com o mais puro e genuíno dos sentimentos: o amor.
Melhor recordar os momentos felizes, agradecer a Deus pela maravilhosa oportunidade do convívio quando estavam entre nós. E acredite no reencontro, pois para quem confia e acredita a morte não é um adeus, mas um até breve.
Todavia, alimentar a filosofia da preservação do amor nas lembranças não nos impede do desabafo. Naquele ambiente de paz, conversamos sobre muitas coisas. Confessei a falta incomensurável que fazem e desabafei sobre o quanto a morte as vezes é injusta, com seus cálculos errados que faz para fazer suas escolhas.
Meu sobrinho foi-se muito cedo, um jovem que tinha toda uma vida pela frente. Sucumbiu diante das injustiças que a vida nos testa, nos revelando que a morte é um fenômeno inexplicável e misterioso.
Todavia, em relação ao meu pai foi-se no momento dele. A vida lhe foi longa, proporcionou-lhe criar os nove filhos e, mesmo sob condições adversas, tornou-se um sobrevivente à fome, à miséria, às injustiças. Foi-se aos 94 anos, porém temos o privilégio de convivermos com a nossa Rainha, que este ano completa 94 anos, mesma idade que nosso pai partiu. Quando a perguntamos das saudades que sente, não se faz de rogada: -“sinto muita falta do pai de vocês, mas ainda não é o momento de nos encontrarmos. Ele vai aguardar mais um pouquinho”.