DE VOLTA AO LIVRO DE TOMBO
O monsenhor José Pereira Diniz era uma figura polêmica, como já fiz ver em textos anteriores. Mas era um apaixonado pelo que fazia. Também tomava partido pelas boas causas e cuidava de proclamar sua satisfação. O médico Clovis Bezerra que começou sua faina em Bananeiras, pelos idos de 1936, recebeu desde sempre o apoio do vigário. Até quando precisou pedir votos, teve a ajuda discreta do padre. Em carta que registrou no Livro de Tombo, em 28 de dezembro de 1936, dirigida ao então Chefe do Posto de Higiene, padre Zé Diniz escreve:
“Já houve quem afirmasse que a função do médico é um sacerdócio do corpo, correlato ao sacerdócio da alma, que é mister especial do padre. Enquanto, o ministro da Religião pensa as feridas morais profundas que corroem o espírito e matam as reservas vivas do coração; o médico, integrado no seu papel, dedica-se ao trabalho caridoso de curar as chagas, os males do organismo humano, contribuindo, dest’arte, para estabelecer a felicidade temporal na sociedade, despertando, pela saúde, no arrimo desfalecido dos que sofrem, a alegria irreprimível de viver. Se existe o sentimento de gratidão, este deve ser tributado aqueles que nos fazem o bem. E se apóstolos do bem são os peregrinos do evangelho, que se imolam na asa da abnegação, para alcandorar as almas ás alturas sobrenaturaes da sua finalidade suprema. Egualmente, deve-se predicar dos que se dedicam ao serviço da humanidade e sacrificam-se pelo bem estar físico do seu semelhante.”
Todo esse nariz de cera na abertura da carta, tinha o propósito de reverenciar o trabalho do médico, não de todos, mas especificamente do futuro prefeito, deputado e governador da Paraíba, Clovis Bezerra. Por isso, acrescenta o pároco: “ Todos nós, em Bananeiras, exceção feita aos eternos descontentes, descobrimos na vossa operosidade funcional, sempre em prova, um verdadeiro sacerdócio no cumprimento fiel dos seus deveres….E o que V.S. tem realizado no Posto de Higiene de Bananeiras, não se argumenta, se vê. Depreende-se daí, o motivo desta simpatia com que os vossos beneficiados ao lado dos vossos verdadeiros amigos cercam a pessoa bondosa de V.S. em toda a extensão territorial de Bananeiras….queira pois, o distinto amigo, aceitar de minha parte, um abraço de parabéns e o meu voto sincero de louvor pelo grande bem que está realizando como chefe do posto de higiene da nossa Bananeiras”.
Nomeado prefeito de Bananeiras pelo interventor federal, desembargador Severino Montenegro, dr. Clovis permaneceu pouco mais de dois meses administrando a cidade. Foi exonerado pelo seu primo Odon Bezerra Cavalcanti, ao assumir, interinamente, a Chefia do Executivo paraibano. Na reconstitucionalização do País, eleição de 1947, ambos foram eleitos deputados constituintes. De Bananeiras, três representantes, se contarmos com o areiense que se fez político longe de casa, Pedro Augusto de Almeida. Este, responsável por famosa polêmica com o padre Zé Diniz, chegou a representar contra o padre na Diocese mas este conseguiu provar que eram infundadas todas as acusações contra sua pessoa. Tudo está registrado: acusação e defesa.
Prefeito e vigário brigavam por tudo. Frei Damião de Bozzano passou algumas semanas em Bananeiras realizando suas Santas Missões. Terminada sua tarefa, voltaria ao Convento dos Capuchinhos, no Recife. O padre mandou comprar a passagem de trem para o frade. Pedro de Almeida foi ao Moreno e alugou, com a ajuda da população católica, um veiculo, para deixar o missionário no Recife, acusando o padre de não ter piedade do capuchinho, já àquele tempo com a coluna vergada. (Mantive a grafia da época, nas transcrições)